O BLOG DE JOSÉ IVO FOLLMANN: A SUA FINALIDADE E COMO FUNCIONA

As principais temáticas nas quais o autor atua estão explicitadas no resumo de seu curriculum lattes. Na busca, dentro do link “SOBRE” , também está indicada a forma de acessar o próprio curriculum lattes do autor.

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Processo de identidadeEstudos e reflexões envolvendo o conceito de processos de identidades, aspectos epistemológicos e operativos.
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Religiões e ReligiosidadesEstudos e reflexões dentro da temática das religiões e religiosidades, focando, sobretudo, a diversidade religiosa, o diálogo inter-religioso e os processos religiosos no Brasil e na sociedade contemporânea.
TransdiciplinaridadeEstudos e reflexões dentro de abordagens transdisciplinares como procedimento importante dentro da produção do conhecimento.

Este BLOG é de criação recente e tem como finalidade facilitar o acesso a textos e registros do autor, em sua relação com diferentes círculos de diálogo e de reflexão. Trata-se de uma espécie de “baú” ou “balaio” onde se encontram coisas novas e velhas de produção do autor. Os textos e outros registros do autor vão sendo postados na medida de demandas criadas. Em geral se trata de textos escritos e publicados ao longo de toda trajetória de produção intelectual do autor. Além dos textos, houve, também, um recente estímulo para colocar alguns registros fotográficos mais significativos da própria trajetória do autor.

PROCESSOS DE IDENTIDADE VERSUS PROCESSOS DE ALIENAÇÃO: ALGUMAS INTERROGAÇÕES.

Artigo publicado na Revista Identidades, em 2012

O ser humano é um ser de projeto

José Ivo Follmann*

Artigo publicado na Revista IDENTIDADE! Escola Superior de Teologia – EST, v. 17, n.1, 2012, pp. 83-90.

Sempre que se fala em identidades ou, melhor, em processos de identidade, vêm à mente, em primeiro plano, ideias de singularidades diferentes, de alteridades e de processos alternativos ou, mesmo, de processos de oposição. Muitas vezes isto desvia a nossa atenção de uma questão chave que são os processos de alienação. Trata-se de algo fundamental termos presente que estes processos são, a rigor, a negação (ou esvaziamento) dos processos de identidade. O exercício de reflexão para construir o conceito de processo de identidade nos ajuda a não deixarmos este aspecto de lado.

A. Touraine (1993) quando trata deste tema em sua teoria sobre os movimentos sociais, nos reporta à seguinte reflexão: “os movimentos sociais (…), o da classe superior e o da classe popular, (…), não estão em relação de igualdade, não estão na situação de dois cavaleiros (nas mesmas condições) se opondo em um torneio. A situação de conflito é, também, em seu início, uma relação de dominação.” (p.339) O autor conclui: “a consciência popular pode ser dominada pela alienação; ela o é quando não se forma um movimento social”. (p.339)

Nesta perspectiva, encontramos, também, ricas sugestões nas reflexões feitas por T. Evers (1984), quando ele em seus estudos sobre os movimentos sociais na América Latina contrapõe à ideia de identidade a ideia de alienação. O autor faz desta oposição um dos pontos centrais em um artigo em que se interroga sobre o “novo” dos “novos movimentos sociais” na América Latina.

Isto nos reporta a P. Berger (1971), o qual nos lembra da importante oposição entre a dinâmica do “opus proprium” e do “opus alienum”.(1) O ser humano, quando se percebe apenas como sujeitado a projetos de outrem, não suporta, ou seja, não se realiza e não desenvolve a sua autoestima enquanto sujeito. Também não se pode falar em construir processo de identidade dos outros ou para os outros… Para nós, um processo de identidade não existe a não ser na forma de manifestação da capacidade autônoma dos indivíduos e grupos na construção de sua história.

A luta pela “autonomização” de identidade expressa uma insubmissão aos processos que são dados, rejeitando, também, todo o tipo de alienação, seja ela prática ou teórica (Chauí, 1982). A identidade não pode ser encontrada dentro de estruturas autoritárias e, mais que isso, exclui a uniformidade: só pode se desenvolver na diversidade, que requer um cenário político no qual ‘todas as vozes, todas’ (como diz uma canção chilena) possam ser escutadas (Evers, 1984).

Com a ideia de processo de identidade, supera-se a simples oposição entre o “passado” e o “futuro”, entre as “trajetórias” e os “projetos”. Segundo F. Debuyst (1992), identidade não é somente a herança histórica, mas é também a maneira com que esta herança é atualizada, comportando reações próprias frente aos desafios atuais. Na verdade, a relação entre a dimensão projetiva, ou seja, da busca e abertura para o futuro, e a história passada, com tudo o que isto significa em termos de experiências acumuladas, é fundamental para a análise das realidades sociais mais diversas.

No que diz respeito ao processo de identidade, isto toma, contudo, uma significação ainda mais acentuada. É na maneira com que um indivíduo ou um grupo (uma coletividade) estabelece a relação entre seu futuro e seu passado ou, ainda, entre seus projetos e suas trajetórias, que temos, de forma particular, as indicações principais para desvendar quais são os definidores de seus processos de identidade. Pode-se definir processo de identidade como a busca constante de estabelecer coerência lógica entre as experiências vividas e aquilo que se tem como objetivo (Remy; Voye; Servais, 1991 e Ruscheinsky, 1990).

Além desta permanente busca na construção da coerência lógica entre as experiências vividas e os rumos da vida que vão sendo traçados, os processos de identidade se dão dentro de uma complexa relação entre as individualidades e as coletividades, que acontecem por meio das mais diversas esferas de sociabilidade ou dimensões da vida social. Uma das esferas de sociabilidade ou dimensões mais profundas da vida social é a esfera ou dimensão das relações étnicorraciais. Muito já se debateu a respeito dos movimentos e organizações dos afrodescendentes no Brasil. O debate acumulado e os diversos estudos deveriam permitir que a temática pudesse fluir mais facilmente, hoje, tanto no meio acadêmico como no convívio cotidiano, mas não é o que acontece. Não acontece porque subsistem questões não resolvidas. Uma dessas questões não resolvidas tem a ver com problemas de acesso à autocompreensão dos próprios processos de identidade. Ou, talvez, formulando em termos mais radicais, tem a ver com processos de alienação sofridos. Estamos referindo “processos de identidade” e “processos de alienação” tanto de negros como de brancos…(2)

Muitas vezes já se ouviu falar dos diversos mecanismos e práticas voltados para o esquecimento e alienação da população de escravos. Entre esses mecanismos e práticas devem ser destacados três: a chamada “árvore do esquecimento”,(3) a imposição de uma nova religião oficial e forçada dispersão e separação das famílias e culturas. Sabemos como, no bojo de cada um desses mecanismos e em reação aos mesmos, foram geradas resistências inteligentes e muito consistentes. Esses movimentos e práticas de resistência só não tomaram maior visibilidade e vigor nos processos de identidade da população afrodescendente no Brasil, porque o forte entrave, por um lado, da forma perversa como as teorias racistas foram usadas para atingir a alma dos escravos e ex-escravos e, por outro lado, do embuste das políticas de branqueamento provocadas pelas mesmas teorias racistas, representou um freio perverso e dobrado. (Pinheiro e Follmann, 2012)

Retomando a formulação da noção de identidade que apresentamos em um artigo anterior (Follmann, 2001), e levando em conta novos avanços em nossas reflexões e estudos, sublinhamos aqui que processos de identidade envolvem dinâmicas coletivas, dinâmicas individuais e dinâmicas que expressam interações entre o nível individual e o nível coletivo, colocando em permanente diálogo valores socialmente propostos ou disciplinados e valores pessoalmente buscados ou reivindicados.

São processos que se dão tanto para outrem como para si mesmo, tendo por resultado sempre uma “costura” de uma parte, entre o que é “herdado” e o que é “almejado” e, de outra parte, entre o que é “atribuído” e o que é “assumido”. Em nossa tese doutoral (Follmann, 1993) procuramos demonstrar que um caminho para abarcar os aspectos essenciais de tudo isso seria o de se colocar os projetos, os motivos, as práticas – as estratégias – e as trajetórias vividas, em permanente relação, nos três níveis acima apontados. Esses processos acontecem nas diferentes esferas de sociabilidade ou dimensões da vida social. Neste sentido podemos falar em “processos étnicorraciais de identidade” assim como em “processos religiosos de identidade”, “processos regionais de identidade” ou “processos profissionais de identidade”, etc.

É oportuno que lembremos toda a complexidade envolvida nos processos de identidade… Eles acontecem na “permanente interação entre os sujeitos, diferenciando-se e considerados diferentes uns dos outros ou assemelhando-se e considerados semelhantes uns aos outros, e carregando em si as trajetórias vividas por estes sujeitos, em nível individual e coletivo e na interação entre os dois, os motivos pelos quais eles são movidos (as suas maneiras de agir, a intensidade da adesão e o senso estratégico de que são portadores) em função de seus diferentes projetos, individuais e coletivos.” (Follmann, 2001, p.59)

Alguém um dia, em uma Oficina com Afrodescendentes (em Projeto de Extensão da Universidade), levantou uma questão que nos deixou muito pensativo: “quais são os projetos dos afrodescendentes”? Não estariam os negros sendo, simplesmente, reduzidos a viver segundo os projetos de uma sociedade branca? A pergunta pairou no ar… E nós passamos a ampliar a questão: onde reside efetivamente o “opus proprium” e o que é “opus alienum” no seu modo comportamental? Por que os afrodescendentes em um meio como o de São Leopoldo, por exemplo, têm tanta dificuldade de se afirmarem como afrodescendentes? E mais, quais são os projetos individuais e coletivos em função dos quais se orientam seus processos de identidade? O que dizer dos processos de interação entre os afrodescendentes e a relação dos mesmos com os que não são afrodescendentes, no passado e no presente, considerando os complexos caminhos de aproximações e distanciamentos e considerando as estratégias envolvidas nesses processos? Por que é tão difícil ser um afrodescendente neste país que é a segunda maior população negra do mundo?

Educação das Relações Étnicorraciais significa, sobretudo, dar conta dessas e de outras questões, para denunciar, por um lado, os processos de alienação e desvelar, por outro, os processos de identidade, que formataram a história de nossa sociedade. Só assim se terá efetivas condições para a construção consistente de um futuro cidadão.

Notas.

  1. A coisa própria (de iniciativa e controle próprios) e coisa alheia (de iniciativa e controle do outro). Ver P. Berger (1971).
  2. Estritamente no que se refere a processos de alienação, é importante anotar que os mesmos não acontecem em uma via só. Normalmente são reforçados por processos de abafamento, descaso, desconhecimento da parte dominante, que também se ancoram em processos de alienação mais amplos. Os indivíduos se veem orientados mecanicamente por concepções de origem alheia ao próprio controle e compreensão. (Esta reflexão se apoia em Follmann, 2001; Berger, 1971; Touraine, 1993; Evers, 1984)
  3. Durante grande parte do período de tráfico dos africanos escravos para o continente americano, e especificamente para o Brasil, eles eram submetidos a um ritual antes de serem embarcados. Era um ritual para esquecerem o seu passado… Eram obrigados a dar voltas em redor de uma árvore, a chamada “árvore do esquecimento”. Ao serem capturados e importados do continente africano para outros países e para o Brasil, eles eram obrigados a fazerem o ritual de esquecimento, ou seja, os homens tinham que dar nove voltas em torno da árvore do esquecimento e as mulheres davam sete voltas. Esta “árvore do esquecimento” continua, depois, se repetindo sob as mais diferentes formas ao longo do processo de escravidão e pós-escravidão… (Ver mais em Pinheiro e Follmann, 2012)

AUTOR:

(*) Doutor em sociologia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.

Referências bibliográficas:

BERGER, P. (1971). El dosel sagrado: elementos para una sociología de la religión. Buenos Aires: Amorrortu.

CHAUI, M. (1982). Notas sobre la crisis de la izquierda en Brasil, Nueva Sociedad, n. 61.

DEBUYRST, F. (1992). Les enjeux socio-politiques actuels de lÁmerique Latine. Rev. La Foi et Le Temps, Tome XXII, N. 5.

FOLLMANN, J.I. (2001). Identidade como conceito sociológico. Rev. Ciências Sociais Unisinos. Vol. 37, N. 158.

EVERS, T. (1984). Identidade, a face oculta dos novos movimentos sociais. Novos Estudos Cebrap, N. 4.
.
FOLLMANN, J.I. (1993). Religion, Politique et Identité: christianisme de la liberation au sein Du Parti des Travailleurs au Brésil (1979-1989) – Recherche sociologique sur l‘identité des catholiques engagés das ce parti et sa signifiication au niveau du parti et de l’Eglise. Tese de Doutorado em Sociologia. Louvain la Neuve, Belgique, Université Catholique de Louvain.

PINHEIRO, Adevanir Aparecida (2011). Identidade Étnico-Racial e Universidade: A dinâmica da visibilidade da temática afrodescendente e as implicações eurodescendentes, em três instituições de ensino superior no sul do País. Tese Doutorado em Ciências Sociais. São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

PINHEIRO, A.A.; FOLLMANN, J.I. (2012). Trabalho de Extensão Universitária com Afrodescendentes: refazendo laços e desatando nós. (Artigo enviado para publicação Forum de Extensão das Universidades Comunitárias, FOREXT, 2012).

REMY, J.; VOYE, L.; SERVAIS, E. (1991). Produire ou reproduire: une sociologie de la vie quotidienne. Vol. I: Conflits e transaction sociale (1978). Bruxelles: De Boeck Université.

RUSCHEINSKY, A. (1990). A emergência de atores coletivos: o movimento dos trabalhadores sem-terra. Rev. Cadernos do Cedope, N. III – 3.

TOURAINE, A. (1993). Production de la societé. (Primeira edição em 1973). Paris: Ed. Le Seuil.

PROCESSOS DE IDENTIDADE.

Breve texto para uso didático em sala de aula, elaborado em 2013

O ser humano é um ser de projeto

José Ivo Follmann

Na elaboração da tese doutoral, em 1994, tivemos oportunidade de desenvolver uma reflexão ampla sobre o conceito de identidade e, sobretudo, de PROCESSOS DE IDENTIDADE. É oportuno que lembremos toda a complexidade envolvida nos processos de identidade… Eles acontecem na

permanente interação entre os sujeitos, diferenciando-se e considerados diferentes uns dos outros ou assemelhando-se e considerados semelhantes uns aos outros, e carregando em si as trajetórias vividas por estes sujeitos, em nível individual e coletivo e na interação entre os dois, os motivos pelos quais eles são movidos (as suas maneiras de agir, a intensidade da adesão e o senso estratégico de que são portadores) em função de seus diferentes projetos, individuais e coletivos.” (Follmann, 2001, p.59)

Na pesquisa para a tese em 1994,

“procuramos demonstrar que um caminho para abarcar os aspectos essenciais de tudo isso seria o de se colocar os projetos, os motivos, as práticas – as estratégias – e as trajetórias vividas, em permanente relação, nos três níveis acima apontados. Esses processos acontecem nas diferentes esferas de sociabilidade ou dimensões da vida social. Neste sentido podemos falar em “processos étnico-raciais de identidade” assim como em “processos religiosos de identidade”, “processos regionais de identidade” ou “processos profissionais de identidade”, etc.” (Follmann, 2012, p.86)

Em um artigo recente, com o título “Processos de identidade versus processos de alienação: algumas interrogações”, pode-se colher o seguinte recorte, para refletir sobre o conceito de PROCESSOS DE IDENTIDADE:

“São processos que se dão, tanto para outrem como para si mesmo, tendo por resultado, sempre, uma “costura” de uma parte, entre o que é “herdado” e o que é “almejado” e, de outra parte, entre o que é “atribuído” e o que é “assumido”.” (Follmann, 2012, p.86)

Referências:

FOLLMANN, J. I. (2012). Processos de Identidade versus processos de alienação: algumas interrogações. Rev. Identidade! São Leopoldo: EST., 17, n.1, janeiro-março, 2012, pp.83-89

FOLLMANN, J. I. (2001). Identidade como conceito sociológico. Rev. Ciências Sociais Unisinos. Vol. 37, N. 158, pp.44-65.

FOLLMANN, J.I. (1994). Religião, política e identidade: os católicos no Partido dos Trabalhadores no Brasil. Rev. Estudos Leopoldenses. V. 30, N. 139, pp. 85-110.

NEGROS E BRANCOS NO BRASIL: TRÊS PONTOS DE REFLEXÃO.

Artigo publicado na Revista Identidade!, em 2011. O texto foi elaborado em coautoria com Adevanir Aparecida Pinheiro.

Falar de raça é urgente e necessário, no Brasil

Artigo publicado em coautoria em 2011 pela Revista IDENTIDADE! e disponível em: http://www.est.edu.br/periodicos/index.php/identidade

Adevanir Aparecida Pinheiro (*)
José Ivo Follmann (**)

RESUMO

O artigo pretende ser uma provocação para a reflexão, pontuando três aspectos de fundamental relevância para ajudar a balizar a Educação das Relações Étnico-Raciais no Brasil: o medo do desconhecido, a ação afirmativa e a questão do branco. No final os autores arrematam apontando para o exemplo perverso da Europa xenofóbica.

No Brasil, por muito tempo, tentou-se resolver o futuro das relações étnico-raciais através do esquecimento. Hoje, finalmente, com muita lucidez, vivemos políticas que colocam em primeiro plano a memória. Não se trata da memória oficial, mas da memória que, por muito tempo, foi cultivada e conseguiu sobreviver nos subterrâneos da nossa história.

A história do Brasil escamoteou e continua a escamotear o longo período de quase quatro séculos de escravidão de milhões de africanos negros, fazendo com que a negritude, a branquitude (e branquidade) e a relação entre negros e brancos, sejam questões falseadas e insuficientemente resolvidas. Deve-se ter presente, sobretudo, que até hoje não se conseguiu dar conta de fazer a narrativa completa das implicações sociais envolvidas na forma como foi realizada a abolição da escravatura e as políticas afirmativas com relação à população de imigrantes brancos, em que esse processo esteve envolvido.

Carecemos, no Brasil, de educação para lidar de maneira justa e lúcida com as conseqüências disso na sociedade e cultura. Isto é tão verdade que foi necessário reformular (formular melhor) a Lei 9.394 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996) através da Lei 10.639 (2003) no que diz respeito especificamente às temáticas da história e cultura dos afrodescendentes e sua obrigatoriedade nas instituições de ensino. (1)

Eliane Cavalleiro, em escrito publicado em Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, do Ministério da Educação (2006), na condição, então, de Coordenadora Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, afirma: os 118 anos que nos separam da Lei Áurea não foram suficientes para resolver uma série de problemas decorrentes das dinâmicas discriminatórias forjadas ao longo dos quatro séculos de regime escravocrata. Ainda hoje, permanece na ordem do dia a luta pela participação de negros e negras nos espaços da sociedade brasileira, e pelo respeito à humanidade dessas mulheres e homens, reprodutores e produtores de cultura. (BRASIL, MEC-SECAD, 2006, p.14-15)

O patrimônio histórico e cultural trazido pelos africanos negros é tão vigoroso, que conseguiu sobreviver e representar um incomparável e marcante legado para a sociedade brasileira. No mesmo texto aqui citado, a autora assim se expressa: Nas formas individuais e coletivas, em senzalas, quilombos, terreiros, irmandades, a identidade do povo negro foi assegurada como patrimônio da educação dos afro-brasileiros. Apesar das precárias condições de sobrevivência que a população negra enfrentou e ainda enfrenta, a relação com a ancestralidade e a religiosidade africanas e com os valores nelas representados, assim como a reprodução de um senso de coletividade, por exemplo, possibilitaram a dinamicidade da cultura e do processo de resistência das diversas comunidades afro-brasileiras. (BRASIL, MEC-SECAD, 2006, p.14)

A ausência da temática dos afrodescendentes negros nas escolas, em todos os níveis, continua sendo gritante, no Brasil. O desconhecimento com relação à África, sua história e cultura, chega a ser escandaloso, quando sabemos quão rica e genuína é a sua contribuição e a de seus filhos e filhas na construção do Brasil e da brasilidade. E, sobretudo, quando sabemos quão duras foram as condições de exploração, exclusão e agressão à dignidade humana, em que se deu essa rica e genuína contribuição.

O medo do desconhecido

Como primeiro ponto de reflexão, retomamos uma inspiração encontrada em Carlos Rodrigues Brandão. Este autor, em um de seus livros no qual retratou a história de Paulo Freire (O Menino que Lia o Mundo), destacou que esse menino que lia o mundo, aprendeu a perder o medo porque começou a entender as coisas e o mundo. Nós em geral temos medo frente ao que não entendemos. Quando não se entende de determinado assunto, tem-se muito medo de entabular conversa sobre o mesmo.

Talvez possamos dizer que a temática dos afrodescendentes negros no Brasil está muito ausente nas escolas porque existe um grande desconhecimento em torno da mesma. Muitos professores e professoras têm medo de abordar o assunto.
Às vezes se ouve falar que tocar nesse tema pode acender as brasas que estão mortas debaixo das cinzas da história, despertando indesejados conflitos raciais. Trata-se do medo associado ao desconhecimento, pois, no caso específico da temática dos afrodescendentes negros, no Brasil, gera menos conflito proporcionar o conhecimento, do que sonegar o conhecimento.

O campo religioso pode ser considerado uma referência exemplar neste sentido. Os ressentimentos e conflitos tendem a crescer na medida em que imperam a desinformação e o desconhecimento mútuos. Ao contrário, a harmonia, o convívio fraternal, o respeito e o diálogo começam a vigorar na medida em que cresce o conhecimento de par a par. No desconhecimento as religiões tendem a se demonizar mutuamente e a afirmar a superioridade de sua proposta e missão com relação às demais.

Hoje estamos longe do tempo em que o padre católico batizava os escravos africanos negros, dando-lhes a “identidade” de católicos, ato contínuo à ordem do comprador dos mesmos que mandava marcar com o ferro em brasa (o selo da posse) as suas novas mercadorias, como peças de trabalho. Apesar dessa sistemática violência, a cultura religiosa dos afrodescendentes persistiu em sua riqueza e diversidade. Hoje em dia se pode conversar honesta e tranquilamente sobre isto. Podemos presenciar diversas situações de diálogo e reconhecimento mútuos envolvendo lideranças católicas e lideranças de religiões de matriz africana junto com representantes de diversas outras denominações e confissões religiosas para desenvolver propostas comuns.

Um Grupo Inter-religioso de Diálogo que existe na UNISINOS, dentro do Programa Gestando o Diálogo Inter-religioso e o Ecumenismo – GDIREC é um testemunho vivo disto… Foi exatamente a partir de desejos expressos neste Grupo que foi desenvolvido com mais atenção o trabalho de inclusão dos sujeitos afrodescendentes e da proposta de Educação das Relações Étnico-Raciais na Universidade. Este Grupo havia levado a sério a necessidade de superar os medos internos que nele subsistiam, partindo para a busca de um maior conhecimento e reconhecimento mútuos.

A importância da ação afirmativa

Como segundo ponto de reflexão, fazemos um convite para olharmos de frente a grave questão ideológica, no Brasil, o falseamento, o mito da democracia racial, os esquecimentos e obstruções da memória, que fazem das escolas e dos professores, veiculadores e reprodutores de explicações fáceis ou de “não explicações”, ajudando a sonegar sutilmente as raízes dos processos de identidade dos afrodescendentes negros em nossa sociedade.

É necessário propor, também em sala de aula, com honestidade, o debate público sobre a questão da grande dívida social que o Brasil tem com relação aos afrodescendentes negros que constituem em torno de 50% da população brasileira.

Trata-se da metade da nossa sociedade cujos ancestrais foram vítimas de um dos mais longos períodos de escravidão conhecidos na história humana: quase quatro séculos de escravidão de africanos negros no Brasil. Para sermos mais precisos é necessário lembrar que segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, através do Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2011), temos no Brasil 50,7% de autodeclarados pretos e pardos (ou seja, negros, como normalmente é consenso nas classificações mais usuais); no Rio Grande do Sul temos 16,1% de autodeclarados pretos e pardos (ou seja, negros) e em São Leopoldo temos 13,7% de autodeclarados pretos e pardos (ou seja, negros). Normalmente a discriminação tende a ser mais sentida, mesmo que invisível, naqueles contextos em que o percentual de afrodescendentes, por uma série de fatores históricos, é mais baixo. É exatamente nestes contextos que o esforço das ações afirmativas deve ser mais lúcido e vigoroso.

Não faz sentido trabalhar a temática dos afrodescendentes negros no Brasil em sala de aula, se persistir a gritante ausência dos mesmos afrodescendentes nas Universidades. Às vezes são feitas comparações com a situação racial nos Estados Unidos, onde a política afirmativa teve a sua época e hoje já está superada. É importante sabermos que, naquele país, os afrodescendentes negros representam 12,6% da população e, depois de um esforço lúcido e vigoroso em termos de políticas afirmativas, hoje são numerosos os que já conseguiram posições de destaque na sociedade.

As políticas de ação afirmativa são necessárias para recuperar as enormes desvantagens sofridas por um segmento da sociedade com relação a outro, mas elas nunca devem significar abrir mão da exigência no preparo técnico e na qualidade. Devem significar formas criativas e inovadoras de proporcionar acesso ao preparo técnico e à qualificação.

A questão dos brancos

Somos facilmente vítimas de um jogo secreto que desvia a atenção do verdadeiro foco. Segundo Pinheiro, que em sua tese de doutoramento (Pinheiro, 2011) discutiu o conceito de “branquidade”, distinguindo-o de “branquitude”,(2) fala-se sempre em “questão do negro” ou “questão do índio”, quando de fato é uma “questão do branco”, em primeira instância… Se os estudos das relações étnico-raciais não tiverem um olhar atento para esse jogo secreto, continuando focados apenas nas etnias historicamente inferiorizadas, eles poderão ser novamente “um tiro no próprio pé”. Estaremos correndo o risco de redobrar as mesmas escamoteações históricas já conhecidas no Brasil.

Este é o terceiro ponto de reflexão: um convite a que nos associemos à linha de reflexão, que traz ao centro do debate a questão do embotamento da consciência branca eurocêntrica. É uma consciência que permanece, muitas vezes, algemada no seu (auto)senso de superioridade. São inúmeros os aspectos históricos relacionados a isto, aos quais se deu pouca atenção no contexto social e acadêmico brasileiro. Esses aspectos muitas vezes são camuflados para não mostrar ou evidenciar as fragilidades e as vergonhas da parte da população sempre (auto)considerada superior.

Como já apontamos no início deste texto, o Brasil, até hoje, não conseguiu dar conta de fazer a narrativa completa das implicações sociais envolvidas na forma como foi realizada a abolição da escravatura e as políticas afirmativas com relação à população de imigrantes brancos, em que esse processo esteve envolvido. Deve-se destacar que políticas afirmativas, que teriam sido humana e racionalmente necessárias, foram sonegadas à população dos afrodescendentes, no período pós-abolição da escravatura. E mais: os grupos que costumam assumir atitudes de “escândalo” ou de desacordo frente às políticas afirmativas com relação aos afrodescendentes, que hoje estão sendo colocadas em pauta, mesmo que isto aconteça de uma forma tímida e com muita dificuldade, em alguns contextos, talvez nem conheçam as políticas afirmativas executadas naquela época com relação aos brancos acolhidos em nosso país… Ou se têm conhecimento delas, pouco se importam, porque, afinal de contas, tudo isso estava pautado para garantir o “branqueamento” da sociedade brasileira…

As raízes históricas disto são profundas e é necessário cavar muito para chegar e elas e arrancá-las. Um dos caminhos que vislumbramos é o de assumir a causa do outro. Em um recente texto (abril 2006), elaborado por uma equipe internacional e intercultural de jesuítas sob a coordenação do Secretariado de Justiça Social da Ordem dos Jesuítas (Companhia de Jesus), que circulou no meio dessa Ordem durante a preparação da 35ª Congregação Geral (Órgão Máximo de Governo da Ordem dos Jesuítas), havia, entre outras, a seguinte recomendação: é recomendável que cada jesuíta se empenhe em defender ao menos uma cultura, que não seja a sua! Esta formulação não entrou em nenhum texto oficial, mas é com certeza altamente inspiradora. Trata-se de uma ótima fórmula para um branco romper as algemas de seu embotamento racial, colocando-se na efetiva defesa do negro e fazendo de sua prática cotidiana uma “prática afirmativa” deste outro tão espezinhado em nossa história.

Para concluir: um pensamento a partir da Europa…

Talvez hoje o grande pecado da Europa seja o de não fazer nada pela África!, clamou um dia alguém. Todos nós sabemos que a Europa é rica, graças, em grande parte, a tudo o que conseguiu conquistar e saquear de outros continentes, entre os quais está, sobretudo, a África. Essas conquistas e esses saques não foram algo pacífico… Um rápido passeio pelo continente europeu nos faz lembrar diversos dos seus principais países, envolvidos, em outros tempos, em ações clamorosas contra o patrimônio dos povos africanos e contra a sua dignidade. São muitos os relatos registrados e que sempre voltam à tona em conversas espontâneas, lembrando saques, espoliações, depredações, atrocidades e mortandades no Congo, Kênia, Namíbia, Senegal, África do Sul, Costa do Marfim, Angola, Rodésia, Moçambique e outros países. Ao ouvir tudo isso, ficamos horrorizados ao vermos as notícias sobre uma Europa, que se dá ao direito e ao luxo de repelir, com violência, pobres e famigerados africanos, amontoados em precárias embarcações, tentando entrar pela costa sul, na desesperada busca da sobrevivência.

Se a Europa fosse conseqüente e coerente com suas próprias políticas de direitos humanos, teria que acolher de braços abertos aos africanos e, de joelhos, suplicar o seu perdão, oferecendo-lhes com solicitude compartilhar algo de tudo aquilo que lhes foi tirado. Trata-se de uma mensagem anônima distribuída eletrônicamente. No corpo da mesma mensagem, está mencionado Frederico Mayor Zaragoza, com a sentença seguinte: Não é com o esquecimento que se resolverá o futuro. É com a memória!

Inspiramo-nos nesta observação com relação à Europa xenofóbica para, também, dizer: Não é com o esquecimento do passado que o Brasil construirá o seu futuro. É com a memória!

Notas:

  1. Mais tarde, esta reformulação da LDB foi ampliada pela Lei 11.645 (2008), incluindo também mais explicitamente a história e a cultura dos povos indígenas, no mesmo sentido.
  2. Pinheiro (2011) estabeleceu importante distinção entre branquitude e branquidade: a primeira (branquitude) referindo-se aos brancos que demonstram uma atitude clara negativa ou positiva com relação aos negros; a segunda (branquidade) referindo-se aos brancos, que às vezes são em grande número, que simplesmente ignoram a questão da relação racial como algo inexistente, ou seja, trata-se de algo totalmente bloqueado ou obstruído. A autora se baseia em Maria Aparecida Bento (2002) em Vron Ware (2004) e outros.

Referências bibliográficas:

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WARE, Vron et al. Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

(*) Assistente Social; Dra. Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos; Coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – NEABI; Professora da UNISINOS.
(**) Padre Jesuíta, Dr. Sociologia pela Université Catholique de Louvain La Neuve, Bélgica; Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, UNISINOS.

ÁFRICA – PREFERÊNCIA APOSTÓLICA DA COMPANHIA DE JESUS (JESUÍTAS): UM OLHAR JESUÍTA SOBRE A ÁFRICA BRASILEIRA.

Artigo publicado na Revista Jesuítas, em 2009.

Falar de raça é urgente e necessário, no Brasil

Observação: O artigo se refere às Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus em vigor até 2018. Para o período de 2019 a 2029, a Companhia de Jesus optou por quatro preferências: Aprofundamento dos Exercícios Espirituais (prática do discernimento); Os pobres e desamparados; A juventude; O cuidado da casa comum.)

José Ivo Follmann sj (*)

(Artigo publicado na Revista Jesuítas, dezembro de 2009)

Introdução
De alguns tempos para cá, o meu fascínio pelos povos africanos veio crescendo. Trata-se de um aprendizado. Inicialmente aprendi a respeitar e a reconhecer os negros afrodescendentes, no convívio paroquial na Vila Duque em São Leopoldo, RS. Também durante o meu tempo de mestrado em São Paulo, residindo na Zona Leste daquela grande cidade, vi mais de perto a força e a vitalidade da metade negra do Brasil. Na Bélgica, durante meu doutorado, conheci muitos africanos de diferentes países, alguns deles jesuítas, dos quais aprendi muito. Mas quem me faz cultivar o fascínio ao extremo são os líderes de religiões de matriz africana, que participam do Grupo Interreligioso de Diálogo, criado em 2002, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo/RS. A singeleza e a sinceridade com que estes líderes – às vezes, sem mesmo serem afrodescendentes – se referem à mãe África, recitando orações e invocações aos Orixás, nas línguas originárias, sempre me fascinaram.

O meu fascínio cresceu na minha brevíssima estada em Moçambique, em julho de 2009, a convite do Regional Jesuíta, para ajudar em oito dias de Exercícios Espirituais junto a meus companheiros jesuítas, tendo como referência a 35ª Congregação Geral. O grupo do retiro estava constituído por 48 jesuítas, dos quais 37 moçambicanos, 5 portugueses e 6 vindos do Brasil. Fiquei muito feliz ao encontrar companheiros de diferentes províncias do Brasil, e senti-me muito desafiado, sobretudo, frente aos moçambicanos…

Entre os retirantes estava o P. Francisco Almenar sj, meu amigo Paco, e lembrei-me de textos de Notícias que ele enviara, depois de sua chegada ao Moçambique. Em abril de 2008, ele citara algumas frases de sua primeira fala pública em uma celebração, sete dias depois de chegar para abraçar a nova missão em terras de África: Sinto-me como uma criança de sete dias. Como uma criança, preciso que vocês me ensinem a falar como vocês falam, a rezar como vocês rezam, a viver como vocês vivem e a cantar como vocês cantam. Três meses depois, em julho de 2008, num belo hino de louvor ao Senhor, o mesmo Paco assim se expressava: Eu te louvo, Senhor, porque o povo moçambicano é, antes de tudo, um fervilhar de vida, de movimento, de capacidade de resposta e iniciativas ante os colossais obstáculos interpostos pela história…

A humanidade precisa voltar a ser criança para descobrir a África. Não escrevo re-descobrir, porque os primeiros encontros de Europeus com Africanos foram envoltos em intenções de dominação e espoliação e pouco caso se fez por realmente descobrir os povos, a sua história e a sua cultura. Os povos africanos são povos que sobrevivem na alegria, mesmo que carregando muita dor. Uma dor profunda acumulada por diversas dominações coloniais, em suas diferentes formas e origens. Mas, sobretudo, a dor da desagregação, vítimas de administrações coloniais desastradas e que foram concluídas de uma forma desrespeitosa e irresponsável.

Ao iniciar este texto, junto minhas palavras às do meu amigo Paco, prosseguindo na sua prece de louvor: Eu te louvo, Senhor, porque a humanidade está reencontrando a África! Porque a Companhia de Jesus está ajudando a humanidade a reencontrar-se com a África! Porque nós brasileiros nos reencontramos conosco mesmos, reencontrando a nossa metade africana!

A exultação de louvor não é só porque nós brasileiros estamos tomando maior consciência de que a metade de nossa população é negra. Isto é verdade e é fundamental para que se faça justiça à nossa história, mas é importante, sobretudo, lembrar que na África reside o berço da humanidade. O teólogo Hans Küng, em seu vídeo documentário, Religiões do Mundo – Religiões Tribais, em meio às suas reflexões sobre a contribuição dos povos africanos e suas religiões, afirma: “ainda que sejamos muito diferentes, dado as características raciais, todos temos presumivelmente uma origem africana comum. Por baixo da pele, somos todos africanos”.

O presente artigo está focado nesta questão de fundo. Partindo da forte constatação de que o Brasil, em termos numéricos de população, é o segundo país mais negro do mundo, e do vivo chamado da Companhia de Jesus, colocando a África entre as grandes preferências apostólicas nos dias de hoje, recordo, inicialmente, por um lado, a complexidade e a riqueza multicultural representadas no continente africano, e, por outro lado, a imensa e impagável dívida que países de outros continentes, sobretudo do continente europeu, contraíram para com os povos africanos, devido à terrível e desumana dominação e espoliação exercida ao longo da história. O Brasil, mesmo que por motivos diversos dos países europeus, é também grande devedor da África. Além de devedor da África, o Brasil carrega dentro de si, a marca histórica de quase quatro séculos de escravidão, e, a exemplo da maneira perversa como os países europeus “concluíram” as suas dominações coloniais no continente africano, o modo de fazer a “abolição da escravatura”, tremendamente desrespeitoso e carregado de irresponsabilidade administrativa e humana. Neste sentido, o artigo é concluído com um duplo desafio para os jesuítas brasileiros, pois a África está situada no continente africano, mas também está entre nós.


A Companhia de Jesus convoca


A 35ª Congregação Geral, em seu Decreto 3, n.39, reafirmou alguns “pontos de atenção especial” para o apostolado atual da Companhia de Jesus e entre estes pontos ou estas preferências apostólicas está o continente africano. Falando da África como preferência apostólica, o texto diz o seguinte: Conscientes das diferenças culturais, sociais e econômicas, na África e Madagascar, mas conscientes também das grandes oportunidades, desafios e da variedade dos trabalhos apostólicos, reconhecemos a responsabilidade da Companhia na apresentação de uma visão mais integral e humana deste continente. Além disso, todos os jesuítas são convidados a uma maior solidariedade com um apoio efetivo à missão da Companhia de inculturar a fé e de promover mais justiça nesse continente.

Para nós jesuítas brasileiros, a convocação da Companhia de Jesus, para que se assuma a África entre as preferências apostólicas, soa, ao mesmo tempo, como um convite familiar e como um chamado desafiador. O fato numérico de sermos o segundo país mais negro do mundo, ao mesmo tempo em que nos traz à memória lados trágicos de nossa história, nos chama à responsabilidade histórica com os povos africanos, como nossos povos irmãos de sangue. O Brasil pode ser considerado, em parte, uma grande diáspora africana, e, assim, podemos dizer que a África também é aqui. Para a Companhia de Jesus no Brasil, o chamado mundial para uma atenção preferencial pelos povos africanos, soa como um chamado de dupla dimensão. Ou seja, a nossa melhor forma de nos voltarmos para o continente africano, é a de dedicarmos mais a nossa atenção aos afrodescendentes negros em nossa sociedade e sermos facilitadores da recuperação de sua memória e raízes culturais.

Para tal, é necessário, num primeiro momento, que nos afastemos de uma visão simplista que tende a encarar o continente africano como se tivesse uma única identidade ou uma só cultura africana… A África é um conjunto de muitos povos, culturas e línguas. Trata-se de um continente muito complexo, em termos de tradições culturais. Só no país Moçambique, que trago à memória, por uma questão de circunstâncias pessoais já referidas, conhece-se mais de 50 línguas ou dialetos diferentes, revelando uma grande diversidade, apesar de apresentarem uma matriz cultural originária única, que é a matriz banto. A diversidade africana está presente também no Brasil.


Desafio para a Europa


Talvez hoje o grande pecado da Europa seja o de não fazer nada pela África!, clamou um dia alguém. Todos nós sabemos que a Europa é rica, graças, em grande parte, a tudo o que conseguiu conquistar e saquear de outros continentes, entre os quais está, sobretudo, a África. Essas conquistas e esses saques não foram algo pacífico… Um rápido passeio pelo continente europeu nos faz lembrar diversos dos seus principais países, envolvidos, em outros tempos, em ações clamorosas contra o patrimônio dos povos africanos e contra a sua dignidade. São muitos os relatos registrados e que sempre voltam à tona em conversas espontâneas, lembrando saques, espoliações, depredações, atrocidades e mortandades no Congo, Kênia, Namíbia, Senegal, África do Sul, Costa do Marfim, Angola, Rodésia, Moçambique e outros países. Ao ouvir tudo isso, ficamos horrorizados ao vermos as notícias sobre uma Europa, que se dá ao direito e ao luxo de repelir, com violência, pobres e famigerados africanos, amontoados em precárias embarcações, tentando entrar pela costa sul, na desesperada busca da sobrevivência.

Se a Europa fosse conseqüente e coerente com suas próprias políticas de direitos humanos, teria que acolher de braços abertos aos africanos e, de joelhos, suplicar o seu perdão, oferecendo-lhes com solicitude compartilhar algo de tudo aquilo que lhes foi tirado. Li isto, um dia, em uma mensagem distribuída eletrônicamente. No corpo da mesma mensagem, estava mencionado Federico Mayor Zaragoza, com a sentença seguinte: Não é com o esquecimento que se resolverá o futuro. É com a memória!


Desafio para o Brasil: três pontos de reflexão

Os três pontos que vou apresentar aqui retomam o que está desenvolvido num breve texto em co-autoria com a Prof. MS Adevanir Aparecida Pinheiro, Notas sobre a temática dos afrodescendentes negros na escola (Primeiro Fórum de Pedagogia, Unisinos, setembro de 2008).

No Brasil, por muito tempo, tentou-se resolver o futuro das relações étnicorraciais através do esquecimento. Hoje, finalmente, com muita lucidez, vivemos políticas que colocam em primeiro plano a memória.

A história do Brasil escamoteou e continua a escamotear o longo período de quase quatro séculos de escravidão de milhões de africanos negros, fazendo com que a negritude, a branquitude e a relação entre negros e brancos, sejam questões falseadas e insuficientemente resolvidas.

Carecemos, no Brasil, de educação para lidar de maneira justa e lúcida com as conseqüências disso na sociedade e cultura. Isto é tão verdade que foi necessário formular a Lei 10.639 (2003) e legislações subseqüentes como complementações esclarecedoras da Lei 9.394 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996) no que diz respeito especificamente às temáticas da história e cultura dos afrodescendentes e sua obrigatoriedade nas instituições de ensino. Mais tarde, pela Lei 11.645 (2008) foram incluídas a história e a cultura dos povos indígenas.

Eliane Cavalleiro, em escrito publicado em Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, do Ministério da Educação (2006), na condição de Coordenadora Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, afirma: os 118 anos que nos separam da Lei Áurea não foram suficientes para resolver uma série de problemas decorrentes das dinâmicas discriminatórias forjadas ao longo dos quatro séculos de regime escravocrata. Ainda hoje, permanece na ordem do dia a luta pela participação de negros e negras nos espaços da sociedade brasileira, e pelo respeito à humanidade dessas mulheres e homens, reprodutores e produtores de cultura.

O patrimônio histórico e cultural trazido pelos africanos negros é tão vigoroso, que conseguiu sobreviver e representar um incomparável e marcante legado para a sociedade brasileira. No mesmo texto aqui citado, a autora assim se expressa: Nas formas individuais e coletivas, em senzalas, quilombos, terreiros, irmandades, a identidade do povo negro foi assegurada como patrimônio da educação dos afro-brasileiros. Apesar das precárias condições de sobrevivência que a população negra enfrentou e ainda enfrenta, a relação com a ancestralidade e a religiosidade africanas e com os valores nelas representados, assim como a reprodução de um senso de coletividade, por exemplo, possibilitaram a dinamicidade da cultura e do processo de resistência das diversas comunidades afro-brasileiras.

A ausência da temática dos afrodescendentes negros nas escolas, em todos os níveis, continua sendo gritante, no Brasil. O desconhecimento com relação à África, sua história e cultura, chega a ser escandaloso, quando sabemos quão rica e genuína é a sua contribuição e a de seus filhos e filhas na construção do Brasil e da brasilidade. Trago aqui, nesta singela abordagem sobre a África, como preferência apostólica da Companhia de Jesus, três pontos de reflexão que devem mobilizar a nós jesuítas do Brasil, em primeiro plano…


O medo do desconhecido

Como primeiro ponto de reflexão, retomo uma inspiração encontrada em Carlos Rodrigues Brandão. Este autor, em um de seus livros no qual retratou a história de Paulo Freire “A história do menino que lia o mundo” (2002), destacou que esse menino que lia o mundo, aprendeu a perder o medo porque começou a entender as coisas e o mundo. Nós em geral temos medo frente ao que não entendemos. Quando não se entende de determinado assunto, tem-se muito medo de entabular conversa sobre o mesmo. Talvez possamos dizer que a temática dos afrodescendentes negros no Brasil está muito ausente nas escolas porque existe um grande desconhecimento em torno da mesma. Muitos professores e professoras têm medo de abordar o assunto.

Às vezes se ouve falar que tocar nesse tema pode acender as brasas que estão mortas debaixo das cinzas da história, despertando indesejados conflitos raciais. Trata-se do medo associado ao desconhecimento, pois, no caso específico da temática dos afrodescendentes negros, no Brasil, gera menos conflito proporcionar o conhecimento, do que sonegar o conhecimento.

O campo religioso pode ser considerado uma referência exemplar neste sentido. Os ressentimentos e conflitos tendem a crescer na medida em que imperam a desinformação e o desconhecimento mútuos. Ao contrário, a harmonia, o convívio fraternal, o respeito e o diálogo começam a vigorar na medida em que cresce o conhecimento de par a par. No desconhecimento as religiões tendem a se demonizar mutuamente e a afirmar a superioridade de sua proposta e missão com relação às demais.

Hoje estamos longe do tempo em que o padre católico batizava os escravos africanos negros, dando-lhes a identidade de católicos, ato contínuo à ordem do comprador dos mesmos que mandava marcar com o ferro em brasa (o selo da posse) as suas novas mercadorias, como peças de trabalho. Apesar dessa sistemática violência, a cultura religiosa dos afrodescendentes persistiu em sua riqueza e diversidade. Hoje em dia se pode conversar honesta e tranquilamente sobre isto. Podemos presenciar diversas situações de diálogo e reconhecimento mútuos envolvendo lideranças católicas e lideranças de religiões de matriz africana junto com representantes de diversas outras denominações e confissões religiosas para desenvolver propostas comuns.


A importância da ação afirmativa

Como segundo ponto de reflexão, faço um convite para olharmos de frente a grave questão ideológica, no Brasil, do falseamento, do mito da democracia racial, do esquecimento e do escamotear, que faz das escolas e dos professores veiculadores e reprodutores das explicações fáceis ou das “não explicações”, ajudando a sonegar sutilmente as raízes da identidade dos afrodescendentes negros em nossa sociedade.

É necessário propor, também em sala de aula, com honestidade, o debate público sobre a questão da grande dívida social que o Brasil tem com relação aos afrodescendentes negros que constituem em torno de 50% da população brasileira. Trata-se da metade da nossa sociedade cujos ancestrais foram vítimas de um dos mais longos períodos de escravidão conhecidos na história humana: quase quatro séculos de escravidão de africanos negros no Brasil.

Não faz sentido trabalhar a temática dos afrodescendentes negros no Brasil em sala de aula, se persistir a gritante ausência dos mesmos afrodescendentes nas Universidades. Às vezes são feitas comparações com a situação racial nos Estados Unidos, onde a política afirmativa teve a sua época e hoje já está superada. É importante sabermos que, naquele país, os afrodescendentes negros só representam 12,6% da população e são numerosos os que já conseguiram posições de destaque na sociedade.

As políticas de ação afirmativa são necessárias para recuperar as enormes desvantagens sofridas por um segmento da sociedade com relação a outro, mas elas nunca devem significar abrir mão da exigência no preparo técnico e na qualidade. Devem significar formas criativas e inovadoras de proporcionar acesso ao preparo técnico e à qualificação.


A questão dos brancos

Somos facilmente vítimas de um jogo secreto que desvia a atenção do verdadeiro foco. Segundo a Prof. MS Adevanir Aparecida Pinheiro, que em sua tese de doutoramento está discutindo o conceito de “branquidade”, fala-se sempre em “questão do negro” ou “questão do índio”, quando de fato é uma “questão do branco”, em primeira instância… Se os estudos das relações étnicorraciais não tiverem um olhar atento para esse jogo secreto, continuando focados apenas nas etnias historicamente inferiorizadas, eles poderão ser novamente “um tiro no próprio pé”. Estaremos correndo o risco de redobrar as mesmas escamoteações históricas já conhecidas no Brasil.

Este é o terceiro ponto de reflexão: um convite a que nos associemos à linha de reflexão, que traz ao centro do debate a questão do embotamento da consciência branca eurocêntrica. É uma consciência que permanece, muitas vezes, algemada no seu senso de superioridade. São inúmeros os aspectos históricos relacionados a isto, aos quais se deu pouca atenção no contexto social e acadêmico brasileiro. Esses aspectos muitas vezes são camuflados para não mostrar ou evidenciar as fragilidades e as vergonhas da parte da população sempre (auto-)considerada superior.

As raízes históricas disto são profundas e é necessário cavar muito para chegar e elas e arrancá-las. Um dos caminhos que vislumbramos é o de assumir a causa do outro. Em um recente texto (abril 2006), elaborado por uma equipe internacional e intercultural de jesuítas sob a coordenação do Secretariado de Justiça Social da Companhia de Jesus, que circulou no meio dos jesuítas durante a preparação da 35ª CG, já referida, havia a seguinte recomendação: é recomendável que cada jesuíta se empenhe em defender ao menos uma cultura, que não seja a sua! Esta formulação não entrou em nenhum texto oficial, mas é com certeza altamente inspiradora e faz parte do espírito da Companhia de Jesus. Trata-se de uma ótima fórmula para um branco romper as algemas de seu embotamento racial, colocando-se na efetiva defesa do negro e fazendo de sua prática cotidiana uma “prática afirmativa” deste outro tão espezinhado em nossa história.


Como jesuíta brasileiro: uma provocação

Talvez o mesmo sentimento pulse no coração de muitos companheiros jesuítas no Brasil… Para mim, o grande chamado da Companhia de Jesus, que coloca a ‘África como preferência apostólica’, tem um forte e duplo sentido: se, por um lado, temos a obrigação de ajudar a levar de volta para a África ao menos um pouco de toda inteligência e força humana que foi de lá arrancada para ajudar a construir, à força, o nosso país, somos, por outro lado, convocados a engajar-nos radicalmente no processo de reeducação das relações étnicorraciais em nosso país, contribuindo para que os afrodescendentes negros em nossa sociedade, nesta nossa diáspora africana, possam reconstituir a sua dignidade e suas raízes históricas e culturais.

Se, no passado, de certa forma, nós fomos coniventes com o tráfico de escravos e com a escravidão, que no presente, saibamos ser profetas da reeducação das relações étnicorraciais no Brasil e ativos defensores da reconstituição da dignidade do continente africano, no concerto mundial.

AUTOR:(*) Sacerdote jesuíta. Professor do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Secretário para a Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil.