ÁFRICA – PREFERÊNCIA APOSTÓLICA DA COMPANHIA DE JESUS (JESUÍTAS): UM OLHAR JESUÍTA SOBRE A ÁFRICA BRASILEIRA.

Artigo publicado na Revista Jesuítas, em 2009.

Falar de raça é urgente e necessário, no Brasil

Observação: O artigo se refere às Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus em vigor até 2018. Para o período de 2019 a 2029, a Companhia de Jesus optou por quatro preferências: Aprofundamento dos Exercícios Espirituais (prática do discernimento); Os pobres e desamparados; A juventude; O cuidado da casa comum.)

José Ivo Follmann sj (*)

(Artigo publicado na Revista Jesuítas, dezembro de 2009)

Introdução
De alguns tempos para cá, o meu fascínio pelos povos africanos veio crescendo. Trata-se de um aprendizado. Inicialmente aprendi a respeitar e a reconhecer os negros afrodescendentes, no convívio paroquial na Vila Duque em São Leopoldo, RS. Também durante o meu tempo de mestrado em São Paulo, residindo na Zona Leste daquela grande cidade, vi mais de perto a força e a vitalidade da metade negra do Brasil. Na Bélgica, durante meu doutorado, conheci muitos africanos de diferentes países, alguns deles jesuítas, dos quais aprendi muito. Mas quem me faz cultivar o fascínio ao extremo são os líderes de religiões de matriz africana, que participam do Grupo Interreligioso de Diálogo, criado em 2002, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo/RS. A singeleza e a sinceridade com que estes líderes – às vezes, sem mesmo serem afrodescendentes – se referem à mãe África, recitando orações e invocações aos Orixás, nas línguas originárias, sempre me fascinaram.

O meu fascínio cresceu na minha brevíssima estada em Moçambique, em julho de 2009, a convite do Regional Jesuíta, para ajudar em oito dias de Exercícios Espirituais junto a meus companheiros jesuítas, tendo como referência a 35ª Congregação Geral. O grupo do retiro estava constituído por 48 jesuítas, dos quais 37 moçambicanos, 5 portugueses e 6 vindos do Brasil. Fiquei muito feliz ao encontrar companheiros de diferentes províncias do Brasil, e senti-me muito desafiado, sobretudo, frente aos moçambicanos…

Entre os retirantes estava o P. Francisco Almenar sj, meu amigo Paco, e lembrei-me de textos de Notícias que ele enviara, depois de sua chegada ao Moçambique. Em abril de 2008, ele citara algumas frases de sua primeira fala pública em uma celebração, sete dias depois de chegar para abraçar a nova missão em terras de África: Sinto-me como uma criança de sete dias. Como uma criança, preciso que vocês me ensinem a falar como vocês falam, a rezar como vocês rezam, a viver como vocês vivem e a cantar como vocês cantam. Três meses depois, em julho de 2008, num belo hino de louvor ao Senhor, o mesmo Paco assim se expressava: Eu te louvo, Senhor, porque o povo moçambicano é, antes de tudo, um fervilhar de vida, de movimento, de capacidade de resposta e iniciativas ante os colossais obstáculos interpostos pela história…

A humanidade precisa voltar a ser criança para descobrir a África. Não escrevo re-descobrir, porque os primeiros encontros de Europeus com Africanos foram envoltos em intenções de dominação e espoliação e pouco caso se fez por realmente descobrir os povos, a sua história e a sua cultura. Os povos africanos são povos que sobrevivem na alegria, mesmo que carregando muita dor. Uma dor profunda acumulada por diversas dominações coloniais, em suas diferentes formas e origens. Mas, sobretudo, a dor da desagregação, vítimas de administrações coloniais desastradas e que foram concluídas de uma forma desrespeitosa e irresponsável.

Ao iniciar este texto, junto minhas palavras às do meu amigo Paco, prosseguindo na sua prece de louvor: Eu te louvo, Senhor, porque a humanidade está reencontrando a África! Porque a Companhia de Jesus está ajudando a humanidade a reencontrar-se com a África! Porque nós brasileiros nos reencontramos conosco mesmos, reencontrando a nossa metade africana!

A exultação de louvor não é só porque nós brasileiros estamos tomando maior consciência de que a metade de nossa população é negra. Isto é verdade e é fundamental para que se faça justiça à nossa história, mas é importante, sobretudo, lembrar que na África reside o berço da humanidade. O teólogo Hans Küng, em seu vídeo documentário, Religiões do Mundo – Religiões Tribais, em meio às suas reflexões sobre a contribuição dos povos africanos e suas religiões, afirma: “ainda que sejamos muito diferentes, dado as características raciais, todos temos presumivelmente uma origem africana comum. Por baixo da pele, somos todos africanos”.

O presente artigo está focado nesta questão de fundo. Partindo da forte constatação de que o Brasil, em termos numéricos de população, é o segundo país mais negro do mundo, e do vivo chamado da Companhia de Jesus, colocando a África entre as grandes preferências apostólicas nos dias de hoje, recordo, inicialmente, por um lado, a complexidade e a riqueza multicultural representadas no continente africano, e, por outro lado, a imensa e impagável dívida que países de outros continentes, sobretudo do continente europeu, contraíram para com os povos africanos, devido à terrível e desumana dominação e espoliação exercida ao longo da história. O Brasil, mesmo que por motivos diversos dos países europeus, é também grande devedor da África. Além de devedor da África, o Brasil carrega dentro de si, a marca histórica de quase quatro séculos de escravidão, e, a exemplo da maneira perversa como os países europeus “concluíram” as suas dominações coloniais no continente africano, o modo de fazer a “abolição da escravatura”, tremendamente desrespeitoso e carregado de irresponsabilidade administrativa e humana. Neste sentido, o artigo é concluído com um duplo desafio para os jesuítas brasileiros, pois a África está situada no continente africano, mas também está entre nós.


A Companhia de Jesus convoca


A 35ª Congregação Geral, em seu Decreto 3, n.39, reafirmou alguns “pontos de atenção especial” para o apostolado atual da Companhia de Jesus e entre estes pontos ou estas preferências apostólicas está o continente africano. Falando da África como preferência apostólica, o texto diz o seguinte: Conscientes das diferenças culturais, sociais e econômicas, na África e Madagascar, mas conscientes também das grandes oportunidades, desafios e da variedade dos trabalhos apostólicos, reconhecemos a responsabilidade da Companhia na apresentação de uma visão mais integral e humana deste continente. Além disso, todos os jesuítas são convidados a uma maior solidariedade com um apoio efetivo à missão da Companhia de inculturar a fé e de promover mais justiça nesse continente.

Para nós jesuítas brasileiros, a convocação da Companhia de Jesus, para que se assuma a África entre as preferências apostólicas, soa, ao mesmo tempo, como um convite familiar e como um chamado desafiador. O fato numérico de sermos o segundo país mais negro do mundo, ao mesmo tempo em que nos traz à memória lados trágicos de nossa história, nos chama à responsabilidade histórica com os povos africanos, como nossos povos irmãos de sangue. O Brasil pode ser considerado, em parte, uma grande diáspora africana, e, assim, podemos dizer que a África também é aqui. Para a Companhia de Jesus no Brasil, o chamado mundial para uma atenção preferencial pelos povos africanos, soa como um chamado de dupla dimensão. Ou seja, a nossa melhor forma de nos voltarmos para o continente africano, é a de dedicarmos mais a nossa atenção aos afrodescendentes negros em nossa sociedade e sermos facilitadores da recuperação de sua memória e raízes culturais.

Para tal, é necessário, num primeiro momento, que nos afastemos de uma visão simplista que tende a encarar o continente africano como se tivesse uma única identidade ou uma só cultura africana… A África é um conjunto de muitos povos, culturas e línguas. Trata-se de um continente muito complexo, em termos de tradições culturais. Só no país Moçambique, que trago à memória, por uma questão de circunstâncias pessoais já referidas, conhece-se mais de 50 línguas ou dialetos diferentes, revelando uma grande diversidade, apesar de apresentarem uma matriz cultural originária única, que é a matriz banto. A diversidade africana está presente também no Brasil.


Desafio para a Europa


Talvez hoje o grande pecado da Europa seja o de não fazer nada pela África!, clamou um dia alguém. Todos nós sabemos que a Europa é rica, graças, em grande parte, a tudo o que conseguiu conquistar e saquear de outros continentes, entre os quais está, sobretudo, a África. Essas conquistas e esses saques não foram algo pacífico… Um rápido passeio pelo continente europeu nos faz lembrar diversos dos seus principais países, envolvidos, em outros tempos, em ações clamorosas contra o patrimônio dos povos africanos e contra a sua dignidade. São muitos os relatos registrados e que sempre voltam à tona em conversas espontâneas, lembrando saques, espoliações, depredações, atrocidades e mortandades no Congo, Kênia, Namíbia, Senegal, África do Sul, Costa do Marfim, Angola, Rodésia, Moçambique e outros países. Ao ouvir tudo isso, ficamos horrorizados ao vermos as notícias sobre uma Europa, que se dá ao direito e ao luxo de repelir, com violência, pobres e famigerados africanos, amontoados em precárias embarcações, tentando entrar pela costa sul, na desesperada busca da sobrevivência.

Se a Europa fosse conseqüente e coerente com suas próprias políticas de direitos humanos, teria que acolher de braços abertos aos africanos e, de joelhos, suplicar o seu perdão, oferecendo-lhes com solicitude compartilhar algo de tudo aquilo que lhes foi tirado. Li isto, um dia, em uma mensagem distribuída eletrônicamente. No corpo da mesma mensagem, estava mencionado Federico Mayor Zaragoza, com a sentença seguinte: Não é com o esquecimento que se resolverá o futuro. É com a memória!


Desafio para o Brasil: três pontos de reflexão

Os três pontos que vou apresentar aqui retomam o que está desenvolvido num breve texto em co-autoria com a Prof. MS Adevanir Aparecida Pinheiro, Notas sobre a temática dos afrodescendentes negros na escola (Primeiro Fórum de Pedagogia, Unisinos, setembro de 2008).

No Brasil, por muito tempo, tentou-se resolver o futuro das relações étnicorraciais através do esquecimento. Hoje, finalmente, com muita lucidez, vivemos políticas que colocam em primeiro plano a memória.

A história do Brasil escamoteou e continua a escamotear o longo período de quase quatro séculos de escravidão de milhões de africanos negros, fazendo com que a negritude, a branquitude e a relação entre negros e brancos, sejam questões falseadas e insuficientemente resolvidas.

Carecemos, no Brasil, de educação para lidar de maneira justa e lúcida com as conseqüências disso na sociedade e cultura. Isto é tão verdade que foi necessário formular a Lei 10.639 (2003) e legislações subseqüentes como complementações esclarecedoras da Lei 9.394 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996) no que diz respeito especificamente às temáticas da história e cultura dos afrodescendentes e sua obrigatoriedade nas instituições de ensino. Mais tarde, pela Lei 11.645 (2008) foram incluídas a história e a cultura dos povos indígenas.

Eliane Cavalleiro, em escrito publicado em Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, do Ministério da Educação (2006), na condição de Coordenadora Geral de Diversidade e Inclusão Educacional, afirma: os 118 anos que nos separam da Lei Áurea não foram suficientes para resolver uma série de problemas decorrentes das dinâmicas discriminatórias forjadas ao longo dos quatro séculos de regime escravocrata. Ainda hoje, permanece na ordem do dia a luta pela participação de negros e negras nos espaços da sociedade brasileira, e pelo respeito à humanidade dessas mulheres e homens, reprodutores e produtores de cultura.

O patrimônio histórico e cultural trazido pelos africanos negros é tão vigoroso, que conseguiu sobreviver e representar um incomparável e marcante legado para a sociedade brasileira. No mesmo texto aqui citado, a autora assim se expressa: Nas formas individuais e coletivas, em senzalas, quilombos, terreiros, irmandades, a identidade do povo negro foi assegurada como patrimônio da educação dos afro-brasileiros. Apesar das precárias condições de sobrevivência que a população negra enfrentou e ainda enfrenta, a relação com a ancestralidade e a religiosidade africanas e com os valores nelas representados, assim como a reprodução de um senso de coletividade, por exemplo, possibilitaram a dinamicidade da cultura e do processo de resistência das diversas comunidades afro-brasileiras.

A ausência da temática dos afrodescendentes negros nas escolas, em todos os níveis, continua sendo gritante, no Brasil. O desconhecimento com relação à África, sua história e cultura, chega a ser escandaloso, quando sabemos quão rica e genuína é a sua contribuição e a de seus filhos e filhas na construção do Brasil e da brasilidade. Trago aqui, nesta singela abordagem sobre a África, como preferência apostólica da Companhia de Jesus, três pontos de reflexão que devem mobilizar a nós jesuítas do Brasil, em primeiro plano…


O medo do desconhecido

Como primeiro ponto de reflexão, retomo uma inspiração encontrada em Carlos Rodrigues Brandão. Este autor, em um de seus livros no qual retratou a história de Paulo Freire “A história do menino que lia o mundo” (2002), destacou que esse menino que lia o mundo, aprendeu a perder o medo porque começou a entender as coisas e o mundo. Nós em geral temos medo frente ao que não entendemos. Quando não se entende de determinado assunto, tem-se muito medo de entabular conversa sobre o mesmo. Talvez possamos dizer que a temática dos afrodescendentes negros no Brasil está muito ausente nas escolas porque existe um grande desconhecimento em torno da mesma. Muitos professores e professoras têm medo de abordar o assunto.

Às vezes se ouve falar que tocar nesse tema pode acender as brasas que estão mortas debaixo das cinzas da história, despertando indesejados conflitos raciais. Trata-se do medo associado ao desconhecimento, pois, no caso específico da temática dos afrodescendentes negros, no Brasil, gera menos conflito proporcionar o conhecimento, do que sonegar o conhecimento.

O campo religioso pode ser considerado uma referência exemplar neste sentido. Os ressentimentos e conflitos tendem a crescer na medida em que imperam a desinformação e o desconhecimento mútuos. Ao contrário, a harmonia, o convívio fraternal, o respeito e o diálogo começam a vigorar na medida em que cresce o conhecimento de par a par. No desconhecimento as religiões tendem a se demonizar mutuamente e a afirmar a superioridade de sua proposta e missão com relação às demais.

Hoje estamos longe do tempo em que o padre católico batizava os escravos africanos negros, dando-lhes a identidade de católicos, ato contínuo à ordem do comprador dos mesmos que mandava marcar com o ferro em brasa (o selo da posse) as suas novas mercadorias, como peças de trabalho. Apesar dessa sistemática violência, a cultura religiosa dos afrodescendentes persistiu em sua riqueza e diversidade. Hoje em dia se pode conversar honesta e tranquilamente sobre isto. Podemos presenciar diversas situações de diálogo e reconhecimento mútuos envolvendo lideranças católicas e lideranças de religiões de matriz africana junto com representantes de diversas outras denominações e confissões religiosas para desenvolver propostas comuns.


A importância da ação afirmativa

Como segundo ponto de reflexão, faço um convite para olharmos de frente a grave questão ideológica, no Brasil, do falseamento, do mito da democracia racial, do esquecimento e do escamotear, que faz das escolas e dos professores veiculadores e reprodutores das explicações fáceis ou das “não explicações”, ajudando a sonegar sutilmente as raízes da identidade dos afrodescendentes negros em nossa sociedade.

É necessário propor, também em sala de aula, com honestidade, o debate público sobre a questão da grande dívida social que o Brasil tem com relação aos afrodescendentes negros que constituem em torno de 50% da população brasileira. Trata-se da metade da nossa sociedade cujos ancestrais foram vítimas de um dos mais longos períodos de escravidão conhecidos na história humana: quase quatro séculos de escravidão de africanos negros no Brasil.

Não faz sentido trabalhar a temática dos afrodescendentes negros no Brasil em sala de aula, se persistir a gritante ausência dos mesmos afrodescendentes nas Universidades. Às vezes são feitas comparações com a situação racial nos Estados Unidos, onde a política afirmativa teve a sua época e hoje já está superada. É importante sabermos que, naquele país, os afrodescendentes negros só representam 12,6% da população e são numerosos os que já conseguiram posições de destaque na sociedade.

As políticas de ação afirmativa são necessárias para recuperar as enormes desvantagens sofridas por um segmento da sociedade com relação a outro, mas elas nunca devem significar abrir mão da exigência no preparo técnico e na qualidade. Devem significar formas criativas e inovadoras de proporcionar acesso ao preparo técnico e à qualificação.


A questão dos brancos

Somos facilmente vítimas de um jogo secreto que desvia a atenção do verdadeiro foco. Segundo a Prof. MS Adevanir Aparecida Pinheiro, que em sua tese de doutoramento está discutindo o conceito de “branquidade”, fala-se sempre em “questão do negro” ou “questão do índio”, quando de fato é uma “questão do branco”, em primeira instância… Se os estudos das relações étnicorraciais não tiverem um olhar atento para esse jogo secreto, continuando focados apenas nas etnias historicamente inferiorizadas, eles poderão ser novamente “um tiro no próprio pé”. Estaremos correndo o risco de redobrar as mesmas escamoteações históricas já conhecidas no Brasil.

Este é o terceiro ponto de reflexão: um convite a que nos associemos à linha de reflexão, que traz ao centro do debate a questão do embotamento da consciência branca eurocêntrica. É uma consciência que permanece, muitas vezes, algemada no seu senso de superioridade. São inúmeros os aspectos históricos relacionados a isto, aos quais se deu pouca atenção no contexto social e acadêmico brasileiro. Esses aspectos muitas vezes são camuflados para não mostrar ou evidenciar as fragilidades e as vergonhas da parte da população sempre (auto-)considerada superior.

As raízes históricas disto são profundas e é necessário cavar muito para chegar e elas e arrancá-las. Um dos caminhos que vislumbramos é o de assumir a causa do outro. Em um recente texto (abril 2006), elaborado por uma equipe internacional e intercultural de jesuítas sob a coordenação do Secretariado de Justiça Social da Companhia de Jesus, que circulou no meio dos jesuítas durante a preparação da 35ª CG, já referida, havia a seguinte recomendação: é recomendável que cada jesuíta se empenhe em defender ao menos uma cultura, que não seja a sua! Esta formulação não entrou em nenhum texto oficial, mas é com certeza altamente inspiradora e faz parte do espírito da Companhia de Jesus. Trata-se de uma ótima fórmula para um branco romper as algemas de seu embotamento racial, colocando-se na efetiva defesa do negro e fazendo de sua prática cotidiana uma “prática afirmativa” deste outro tão espezinhado em nossa história.


Como jesuíta brasileiro: uma provocação

Talvez o mesmo sentimento pulse no coração de muitos companheiros jesuítas no Brasil… Para mim, o grande chamado da Companhia de Jesus, que coloca a ‘África como preferência apostólica’, tem um forte e duplo sentido: se, por um lado, temos a obrigação de ajudar a levar de volta para a África ao menos um pouco de toda inteligência e força humana que foi de lá arrancada para ajudar a construir, à força, o nosso país, somos, por outro lado, convocados a engajar-nos radicalmente no processo de reeducação das relações étnicorraciais em nosso país, contribuindo para que os afrodescendentes negros em nossa sociedade, nesta nossa diáspora africana, possam reconstituir a sua dignidade e suas raízes históricas e culturais.

Se, no passado, de certa forma, nós fomos coniventes com o tráfico de escravos e com a escravidão, que no presente, saibamos ser profetas da reeducação das relações étnicorraciais no Brasil e ativos defensores da reconstituição da dignidade do continente africano, no concerto mundial.

AUTOR:(*) Sacerdote jesuíta. Professor do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Secretário para a Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil.

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