RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: MISSÃO DE RECONCILIAÇÃO E JUSTIÇA.

Reflexão elaborada em 2017 em vista de trabalhos de assessoria nas Frentes Apostólicas da Província dos Jesuítas do Brasil.

O conceito de justiça socioambiental está amparado no paradigma de ecologia integral

P. José Ivo Follmann sj
Secretário para a Justiça Social e Socioambiental
Província dos Jesuítas do Brasil
(26/09/2017)

A Educação Jesuíta está presente no mundo todo e participa do rico “tesouro espiritual” da Companhia de Jesus, Ordem Religiosa dos Jesuítas, cultivado e transmitido ao longo de séculos. Trata-se do mesmo “tesouro espiritual” que embasa a “missão de reconciliação e justiça” recentemente sublinhada pela Congregação Geral 36 (CG 36), em 2016.

É um “tesouro” que contém uma proposta educativa muito atenta aos diferentes contextos e épocas. Como tal, busca e cria respostas adequadas aos apelos de cada momento.

O Projeto Educativo Comum – PEC, construído recentemente pela Rede Jesuíta de Educação – RJE da Província dos Jesuítas do Brasil, em um de seus posicionamentos, assim se expressa: “O contexto socioambiental em que estamos inseridos nos apresenta apelos aos quais não podemos estar indiferentes e insensíveis”. (PEC, n. 2) O documento prossegue, apoiando-se na Sagrada Escritura (Rm 12,2), com o seguinte apelo: “Nossa fé nos ensina estar atentos aos sinais dos tempos e a não nos conformar com o mundo, mas transformá-lo”. (PEC, n. 2)

Vivemos em uma época de grandes crises. São crises que se manifestam nos diferentes âmbitos da sociedade. São crises envolvendo a própria sobrevivência do planeta terra. Essas crises são um desafio múltiplo, que chama a uma grande responsabilidade de busca de reconciliação e construção de relações justas.

Apoiando-se na Encíclica Papal ‘Laudato Sí’, os jesuítas, reunidos em 2016, na CG 36, assim se expressaram, em um de seus Decretos: “O Papa Francisco nos recorda que ‘não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, senão uma só e complexa crise socioambiental’. Esta crise única, que subjaz tanto à crise social como à ambiental, origina-se do modo como os seres humanos usam – e abusam – das pessoas e das riquezas da terra”. (CG 36, d.1, n.2)

Na ‘Laudato Sí’, o Papa Francisco refere e sublinha o conceito de Ecologia Integral, que pode ser considerado como paradigma transdisciplinar chave, para a busca de compreensão da problemática complexa em nossos dias.

Já em 2008, os jesuítas, na CG 35, ao falar da promoção da justiça focaram na “reconciliação com Deus”, “com os outros” e “com a criação”. (CG 35, d. 3, n. 20-24). Esta tríplice reconciliação foi particularmente aprofundada pela última Congregação Geral, sintetizando o eixo central da Missão da Companhia na palavra reconciliação. (CG 36, d. 1, n. 21-30)

A missão da reconciliação, nos termos desta Congregação, tem como elementos centrais a fé, a justiça e a solidariedade para com os pobres e os excluídos. (CG 36, d. 1, n. 3). Desde a década de 1970, na CG 32, o eixo central da missão sempre veio sendo definido como “o serviço da fé do qual a promoção da justiça se constitui como exigência absoluta” (CG 32, d. 4, n. 2). Não há uma ruptura com esta formulação, mas se alcança uma nova culminância de síntese e compreensão na palavra reconciliação, como expressão mais radical da justiça, enquanto condição do serviço da fé.

O nosso PEC afirma que a Instituição Educacional Jesuíta é um “lugar de transformação evangélica da sociedade e da cultura por meio da formação de homens e mulheres conscientes, competentes, compassivos e comprometidos”. (PEC, n.9; RJE, Estatuto, art. 5º). A educação jesuíta se propõe, assim, a facilitar espaços educativos por dentro e por fora da sala de aula, que levem à formação de homens e mulheres de alta qualificação profissional e profunda consciência crítica. Isto necessita de terreno concreto para fortalecer as suas raízes. O contato e a prática concreta de “responsabilidade socioambiental” ou “promoção da justiça socioambiental” no horizonte radical da reconciliação e da ecologia integral ajudarão a proporcionar isto.

Enseja-se a formação de homens e mulheres comprometidos e engajados na busca de soluções para os diferentes problemas concretos do convívio humano. Que sejam homens e mulheres cujo coração pulse forte e inquieto sempre que forem confrontados com os problemas que envolvem, sobretudo, a dignidade humana, a superação das exclusões e o cuidado dos bens da natureza, ou seja:

 O reconhecimento profundo da dignidade de todos os seres humanos acima de raízes étnico-raciais, de crenças religiosas, das diferentes gerações, gênero, origem nacional, visões de mundo e opções, buscando sempre formas de estabelecer o diálogo, o valor da pluralidade e a inclusão de todos.

 A superação das exclusões sociais e da pobreza, promovendo o acesso universal aos direitos básicos de trabalho, assistência social, previdência, saúde, moradia, educação e alimentação. Inclui-se, sobretudo, o direito de ter um país para viver.

 A busca constante pela boa conservação, preservação e usos adequados dos dons da natureza, em vista do cuidado dos ecossistemas saudáveis e da vida para o futuro do planeta terra e de seus habitantes.

Este é o tríplice apelo ou a tríplice chave para o exercício de nosso papel de promoção da justiça socioambiental ou exercício de nossa responsabilidade socioambiental, no horizonte da ecologia integral e da visão cristã da reconciliação.

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