ECOLOGIA INTEGRAL – ABORDAGENS [IM]PERTINENTES (coletânea de três volumes)

José Ivo Follmann (organizador)

Trata-se de uma coletânea de três volumes, com 9 artigos (capítulos) em cada um dos volumes, ou seja, 27 artigos (capítulos) escritos por pesquisadores e pesquisadoras que se engajaram a convite do organizador na elaboração de recortes específicos dentro do debate desafiador do paradigma da Ecologia Integral. Faz parte de iniciativas do “Grupo de Pesquisa CNPq – Transdisciplinaridade, Ecologia Integral e Justiça Socioambiental” liderado pelo organizador. (CLIQUE EM CIMA DA FOTO DA CAPA PARA ABRIR O E-BOOK)

  • José Ivo Follmann (organizador): Introdução
  • Josafá Carlos de Siqueira: Casa Comum: Um Conceito Interdisciplinar e Pluriverso
  • Sinivaldo Silva Tavares: Ecologia Integral: Um Novo Paradigma
  • Afonso Murad: Ecosofia na Deep Ecology e a Ecologia Integral da Laudato Si’
  • Sílvio Marques Sousa Santos e Therezinha de Jesus Pinto Fraxe: Ecologia Integral: nova racionalidade ambiental fundada da justiça socioambiental
  • José Roque Junges: A Saúde na Perspectiva da Ecologia Integral em Tempos da Pandemia do Covid19
  • Adevanir Aparecida Pinheiro e Camila Botelho Schuck: Racismo Ambiental, Ecologia Integral e Casa Comum: uma reflexão crítica a partir do feminismo negro e da educação das relações étnico-raciais
  • Daniela Gargantini e Inés Harrington: Desafíos de la universidad en el siglo XXI – Cómo contribuir a una formación ecológica integral en sociedades fragmentadas e insostenibles
  • Joelson de Campos Maciel: Pautando Tomadas de Decisão em Empreendimentos Energéticos: Reflexão filosófica a partir de Hans Jonas
  • Victor Martin-Fiorino: Ecología Integral y Metas del Milenio: repensar el Oikos Global desde el Cuidado y la Responsabilidad
  • Introdução (José Ivo Follmann – organizador)
  • Tecnociência e mercado sob o olhar da ecoteologia (Sinivaldo Silva Tavares)
  • A ecologia dos saberes na cidade: justiça cognitiva e práticas de cuidado em liberdade (Marilia Verissimo Veronese)
  • A concepção inaciana de Formação Integral enquanto possibilidade de educar na perspectiva da Ecologia Integral (João Batista Storck)
  • Educação em Justiça socioambiental para a ecologia integral (Aloisio Ruscheinsky)
  • Ecología integral a la luz de la justicia ambiental y la justicia anamnética (Oscar Martín López; Castor Mari Martin Bartolomé Ruíz)
  • Filosofia Ecológica Integral: Noções introdutórias a partir da leitura da Encíclica Laudato Si` (Josenir Lopes Dettoni)
  • O diálogo entre teologia, ciência e cosmologia indígena, a partir do conceito de “ecologia integral” (Adelson Araújo dos Santos)
  • A Participação social como fator determinante para o reconhecimento dos direitos da natureza (Mariza Rios)
  • Ecologia Integral, Justiça Socioambiental e Bem Viver (Luiz Felipe Lacerda)

  • Introdução (José Ivo Follmann – organizador)
  • Produção e constituição de sujeitos ecológicos plurais: experiências com algumas populações rurais tradicionais e indicadores de avaliação de autonomia socioambiental (Dimas Floriani; Nicolas Floriani)
  • Questionamentos dos grandes empreendimentos na Amazônia na perspectiva da Ecologia Integral; em busca da justiça socioambiental para as populações e o meio ambiente (Guillermo Antonio Cardona Grisales)
  • Água, elemento representativo da ecologia integral (Sandoval Alves da Rocha)
  • Decolonialidade e Contra-Racismo: O ‘Ser Branco’ no Horizonte da Descolonização das Mentes (Adevanir Aparecida Pinheiro; Maria Nilsa da Silva; José Ivo Follmann )
  • Por uma Educação Eco-Integradora: Perspectivas De(s)Coloniais ou Descolonizantes (Danilo Romeu Streck; Camila Wolpato Loureiro; Carolina Schenatto da Rosa)
  • Filosofia Ecológica Integral: ampliando a reflexão (Josenir Lopes Dettoni)
  • Nietzsche; das forças cósmicas à economia ecológica integral (Adilson Felício Feiler)
  • Paradoxos nos entrelaçamentos entre o social e o ambiental: a ecologia integral em múltiplas conexões (Aloísio Ruscheinsky)
  • Ecologia Integral em tempos de barbárie?  (Teresinha Maria Gonçalves)

O SÍNODO DA AMAZÔNIA NO HORIZONTE DO CONCÍLIO VATICANO II

José Ivo Follmann sj – Secretário para a Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil, 27/10/2019

“Flor espontânea de uma inesperada primavera”, o Concílio Vaticano II (1962-1965) fez a Igreja viver “um novo Pentecostes”. São expressões presentes no texto que introduz o Compêndio dos Documentos Conciliares. Nelas se expressa bem o que aquele evento desencadeou: um processo de mudanças de Igreja, dentro da mudança de época, que marca a humanidade nas últimas décadas.

Depois da conclusão do Vaticano II, já vivemos uma longa história de mais de meio século. Poderíamos entrar em detalhes e mostrar como o Espírito de Deus soprou de forma renovada nos diversos Sínodos que se sucederam e, também, nas Conferências Episcopais, sempre retomando e aprofundando apelos e propostas já presentes no Vaticano II.

O Sínodo para a Amazônia, finalizou a sua Assembleia Especial, em Roma, no dia 27 de outubro de 2019. Inicia-se, agora, a fase pós-sinodal. É a fase de colocar em prática o que foi construído coletivamente e que será, oficialmente, orientado. É a fase de prosseguir no aprofundamento das escutas recíprocas e dos diálogos. Tempo de assimilação e de oração, em um permanente processo de discernimento e de conversão integral. Ou seja: uma conversão que impregne todas as dimensões de nosso viver.

A Assembleia final reuniu em torno de 250 participantes sinodais, debruçando-se sobre textos e documentos de trabalho recolhidos de um processo intenso de reflexão coletiva, que durou quase dois anos, envolvendo, segundo relato da Rede Eclesial Pan Amazônica – REPAM, em torno de 87.000 pessoas.

Este Sínodo é o “filho mais novo do Concílio Vaticano II”. Uma contribuição ímpar para a Igreja, apontando o caminho da sinodalidade na Igreja, que deve ser aprofundada. Foi um grande kayrós vivido pela Igreja! Um avanço sem igual neste tempo pós-conciliar. Um avanço concreto, dentro de uma região, com características muito genuínas e próprias, com desafios tremendos para a humanidade como um todo, que é a Região da Amazônia.

Os problemas, os desafios e os múltiplos clamores da vida e dos seres humanos que integram aquela realidade pluricultural, pluriétnica e plurinacional, foram pautados e levados a sério.

Amparada em laudos técnicos e científicos, mas, sobretudo, sensível aos clamores da região e compassiva com a vida em todas as suas manifestações e com os povos que fazem história naquele contexto, a Igreja levantou a voz como um alerta profético para a humanidade. Foram revigorados, assim, posicionamentos já muito presentes em falas e apelos dos últimos Papas da Igreja, desde São Paulo VI.

O Sínodo mostrou problemas e apelou para soluções. Denunciou desmandos e irresponsabilidades ecocidas e genocidas. Apelou para uma conversão ecológica e social. Em termos de fidelidade ao seguimento cristão, alertou para a existência do “pecado ecológico”.

O Sínodo se orientou, sobretudo, pela conversão cultural, pela busca do “rosto amazônico” de uma Igreja que seja missionária segundo o espírito de Jesus que se encarnou neste mundo. Foi um apelo para termos a humildade de aprender verdadeiramente do outro. Sinalizou, inclusive, para a instituição de um “rito amazônico”. Reconheceu os erros e limitações pastorais que acompanharam a história da Igreja no contexto Amazônico.

Apelou para uma conversão pastoral. Sinalizou a urgência por passar de um modelo de “pastoral de visita” para uma “pastoral de presença” junto às comunidades no contexto Amazônico. Propôs medidas concretas neste sentido. Reconheceu o grande papel exercido pelas mulheres na Igreja, destacando o seu grande significado e importância em toda a vida da Igreja e a valorização de seu protagonismo na liderança das comunidades. Propôs medidas concretas para garantir uma maior valorização da sensibilidade feminina na dinamização da sinodalidade da Igreja.

Renovou com vigor o posicionamento do Concílio Vaticano II, retomando a frase: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de todos, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. (cf. G.S, 1)

CARTA DO PROVINCIAL: “NOVA MISSÃO”

Crônica escrita em 25/03/2023, referente a “Nova Destinação” recebida em 18/03/2023

José Ivo Follmann, sj (25/03/2023)

Era 18 de março de 2023, nove horas da manhã; um belo sábado. Naquela hora eu já havia cumprido uma longa agenda rotineira de um madrugador contumaz, de “amanheceres precoces”. A gostosa disciplina de, quase sempre, me antecipar ao amanhecer, me faz bem. Sempre me considerei um religioso disciplinado. Aprendi, é claro, que existem muitas formas de disciplina… O convívio plural, mesmo que, às vezes, pareça incômodo, pode tornar-se algo gostoso e desafiador, dentro da própria vida religiosa em comunidade; sobretudo, quando é uma comunidade em dispersão, como é a nossa, de jesuítas em Brasília.

Era hora de iniciar o trabalho propriamente. Abri o computador e fui direto aos e-mails. Os meus olhos brilharam, não surpresos, mas intrigados ao ver o e-mail que puxava a lista dos “não lidos”. O e-mail era do escritório central de nossa Província Jesuíta, conhecido como “Cúria Provincial”. O título dizia “Carta do Provincial: Nova Missão”. A carta era esperada, pois a minha presença em Brasília, desde o início, tinha previsão de temporalidade curta e isto já havia sido resultado de muitas conversas. No entanto, me encantei com o título do e-mail, falando em “nova missão”. Pensei comigo: “isto não precisava ter sido tão rápido”!… Mas, o encanto do “novo” me possuiu.

Antes mesmo de abrir o e-mail, o meu pensamento voou célere. “Que interessante!!!”, pensava eu comigo mesmo… Estou recebendo uma “Nova Missão” para a mesma Universidade onde acabo de completar cinquenta anos de vínculo de trabalho. No início deste mês de março, eu completara exatamente cinco décadas de contrato na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, na qual assumi como professor de sociologia, em 1973, quando ainda era estudante de teologia. Isto foi dois anos antes de receber a ordenação presbiteral. Na soma dos cinquenta anos, obviamente, estão incluídos os últimos dez, ao longo dos quais eu estive cedido parcialmente para atividades em nível de Província e de âmbito nacional; um tempo no qual não deixei de atender às obrigações acadêmicas, é claro, em formato mais reduzido, somando muitas horas de viagem e de internet.[1]

Li a carta do Provincial com os seus agradecimentos pelos serviços prestados como Secretário para a Justiça Socioambiental e na criação e consolidação do OLMA (Observatório Luciano Mendes de Almeida), como membro do Conselho para a Missão da Província e nas demais contribuições prestadas em Brasília, ao longo do recente período de transição. Nessas ocasiões os agradecimentos sempre são profusos e generosos e fazem bem ao coração.

O mote principal da carta do Provincial estava formulado nesses dizeres: “o contexto atual já possibilita liberar você para uma NOVA MISSÃO”. O Provincial não dizia “para retomar integralmente a sua antiga missão” … A carta concluía com a consideração seguinte: “Mesmo morando em Brasília, você continuou colaborando com a Unisinos e essa colaboração ainda é valiosa para a universidade e para a missão da Companhia. Olhando o contexto da província, percebo a necessidade de requalificar a nossa presença em São Leopoldo. (…) Você poderá continuar a ser um apoio significativo. Tendo considerado esses e outros aspectos, decidi destinar você para a Comunidade Imaculada Conceição, em São Leopoldo. Sua missão principal será colaborar com a Unisinos”.

Se alguém tivesse me fotografado ao ler essa “carta de destinação”, com certeza teria registrado um brilho de gratidão e encanto ingênuo nos meus olhos. É verdade que, no brilho dos olhos, um fugidio turvar podia ser também perceptível frente ao fato de ter que deixar um lugar de convívio e trabalho tão gostoso, como é este recanto brasiliense renovado e desafiador, desenhado discretamente no carinho das pessoas e nos momentos vividos e construídos, férteis de saudade e de futuro promissor.

Mas voltemos ao discreto fotógrafo. Com certeza, ele também não teria deixado de reparar aquele pequeno sorriso maroto no canto da minha boca, como que a dizer: “Sobrevivi a todos os seis reitores da história da Unisinos, posso tentar sobreviver também ao sétimo, que agora me convida a voltar” … Tenho no meu íntimo a certeza de que,  em diversas medidas, eu soube ser pedra no sapato de todos os reitores; mas, acho que, entre polêmicas e calmarias, negações e afirmações, esse foi sempre um incômodo coerente com um sonho de universidade, cultivado na firmeza permanente, sem confrontos inócuos; sonho que, parafraseando o Papa Francisco, poderíamos chamar, agora, de “universidade em saída”.

Confesso que o impacto da leitura daquela carta do Provincial me envolveu num maravilhoso embalo de distração e curtição ao longo de todo aquele final de semana. Foi um final de semana tocado na brisa leve, confortante e intrigante do “novo” da “nova missão”…

Na verdade, é muito gostoso ser chamado para “nova missão” na mesma universidade onde se está completando cinquenta anos de trabalho. Sobretudo sabendo que foram anos, em nada parecidos com tempos de “paz de cemitério” …

Pensei comigo mesmo: Em toda a minha trajetória já protagonizei a criação de muitas coisas novas, naquela Universidade e na dimensão social da Companhia de Jesus no Brasil . Está na hora de entender que o novo não está em fazer coisas novas, mas em fazer novas todas as coisas. É preciso saber viver mais plenamente o tempo e desfazer-se da preocupação mesquinha de apropriar-se dos espaços. Na dinâmica do tempo é necessário que as forças novas, com mais futuro pela frente, tenham espaço de protagonismo, para evitar que a história emperre e fique, talvez, demasiado lenta.

Elevo um hino de gratidão a Deus pelos muitos aprendizados que vou tendo na vida, através de tantas pessoas que carinhosamente partilharam e partilham permanentemente trechos inesquecíveis comigo, em meu caminho, e, sobretudo, por poder viver na Igreja em tempos de Concílio Vaticano II e de Papa Francisco e em tempos de impulso novo e de renovação da presença jesuíta no Brasil.


[1] Fui cedido parcialmente pela Universidade, dentro do processo de gestação e instituição da Província do Brasil, quando exerci a função de Secretário para a Justiça Socioambiental dos Jesuítas no Brasil, a partir de agosto de 2013 e fui transferido, em 2018, para Brasília, para estar fisicamente mais presente no processo de consolidação do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA, que havia sido criado em 2016, cuja função principal é ser um serviço de articulação de toda a Rede de Promoção da Justiça Socioambiental da Província, como braço importante do Secretário para esta finalidade. O OLMA, com um secretário executivo uma equipe executiva bem estruturada, está consolidado em Brasília, instalado no CCB, e, entre outras atividades de mediação de incidências, a sua atividade principal continua sendo a de estar a serviço do Secretário para a Justiça Socioambiental. (A partir de agosto de 2022 este Secretário é o Pe Jean Fábio Santana sj, atuando a partir de Salvador, BA).