O SÍNODO DA AMAZÔNIA NO HORIZONTE DO CONCÍLIO VATICANO II

José Ivo Follmann sj – Secretário para a Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil, 27/10/2019

“Flor espontânea de uma inesperada primavera”, o Concílio Vaticano II (1962-1965) fez a Igreja viver “um novo Pentecostes”. São expressões presentes no texto que introduz o Compêndio dos Documentos Conciliares. Nelas se expressa bem o que aquele evento desencadeou: um processo de mudanças de Igreja, dentro da mudança de época, que marca a humanidade nas últimas décadas.

Depois da conclusão do Vaticano II, já vivemos uma longa história de mais de meio século. Poderíamos entrar em detalhes e mostrar como o Espírito de Deus soprou de forma renovada nos diversos Sínodos que se sucederam e, também, nas Conferências Episcopais, sempre retomando e aprofundando apelos e propostas já presentes no Vaticano II.

O Sínodo para a Amazônia, finalizou a sua Assembleia Especial, em Roma, no dia 27 de outubro de 2019. Inicia-se, agora, a fase pós-sinodal. É a fase de colocar em prática o que foi construído coletivamente e que será, oficialmente, orientado. É a fase de prosseguir no aprofundamento das escutas recíprocas e dos diálogos. Tempo de assimilação e de oração, em um permanente processo de discernimento e de conversão integral. Ou seja: uma conversão que impregne todas as dimensões de nosso viver.

A Assembleia final reuniu em torno de 250 participantes sinodais, debruçando-se sobre textos e documentos de trabalho recolhidos de um processo intenso de reflexão coletiva, que durou quase dois anos, envolvendo, segundo relato da Rede Eclesial Pan Amazônica – REPAM, em torno de 87.000 pessoas.

Este Sínodo é o “filho mais novo do Concílio Vaticano II”. Uma contribuição ímpar para a Igreja, apontando o caminho da sinodalidade na Igreja, que deve ser aprofundada. Foi um grande kayrós vivido pela Igreja! Um avanço sem igual neste tempo pós-conciliar. Um avanço concreto, dentro de uma região, com características muito genuínas e próprias, com desafios tremendos para a humanidade como um todo, que é a Região da Amazônia.

Os problemas, os desafios e os múltiplos clamores da vida e dos seres humanos que integram aquela realidade pluricultural, pluriétnica e plurinacional, foram pautados e levados a sério.

Amparada em laudos técnicos e científicos, mas, sobretudo, sensível aos clamores da região e compassiva com a vida em todas as suas manifestações e com os povos que fazem história naquele contexto, a Igreja levantou a voz como um alerta profético para a humanidade. Foram revigorados, assim, posicionamentos já muito presentes em falas e apelos dos últimos Papas da Igreja, desde São Paulo VI.

O Sínodo mostrou problemas e apelou para soluções. Denunciou desmandos e irresponsabilidades ecocidas e genocidas. Apelou para uma conversão ecológica e social. Em termos de fidelidade ao seguimento cristão, alertou para a existência do “pecado ecológico”.

O Sínodo se orientou, sobretudo, pela conversão cultural, pela busca do “rosto amazônico” de uma Igreja que seja missionária segundo o espírito de Jesus que se encarnou neste mundo. Foi um apelo para termos a humildade de aprender verdadeiramente do outro. Sinalizou, inclusive, para a instituição de um “rito amazônico”. Reconheceu os erros e limitações pastorais que acompanharam a história da Igreja no contexto Amazônico.

Apelou para uma conversão pastoral. Sinalizou a urgência por passar de um modelo de “pastoral de visita” para uma “pastoral de presença” junto às comunidades no contexto Amazônico. Propôs medidas concretas neste sentido. Reconheceu o grande papel exercido pelas mulheres na Igreja, destacando o seu grande significado e importância em toda a vida da Igreja e a valorização de seu protagonismo na liderança das comunidades. Propôs medidas concretas para garantir uma maior valorização da sensibilidade feminina na dinamização da sinodalidade da Igreja.

Renovou com vigor o posicionamento do Concílio Vaticano II, retomando a frase: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de todos, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. (cf. G.S, 1)

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