ECOLOGIA INTEGRAL E ESPIRITUALIDADE DO SERVIÇO-APRENDIZAGEM

Texto publicado, como capítulo, no Volumen 3 de la Colección Uniservitate: Espiritualidad y Educación Superior: perspectivas desde el Aprendizaje-servicio. Colección Uniservitate. Coordinación general: María Nieves Tapia. Coordinación editorial: Jorge A. Blanco. CLAYSS, Centro Latinoamericano de Aprendizaje y Servicio Solidario. Argentina, 2022.

José Ivo Follmann sj

Resumo: O ensaio está escrito sob a marca do contexto atual de injustiças, no qual se desenham fortes degradações humanas, sociais e ambientais. Nele se faz uma nota especial em relação ao momento da pandemia presente e ao agravamento que ele representa no processo de degradação humana já em curso por séculos. Na contextualização têm destaque duas iniciativas globais de busca de soluções, como é a dos “objetivos do desenvolvimento sustentável” e a do “pacto educativo global”. É anotada, também, a importância dos 500 anos da espiritualidade inaciana. A atenção principal está no papel da educação e das universidades. A escrita do ensaio se desenvolve basicamente como um “diálogo concreto” movido por uma concepção operativa de justiça, portadora da espiritualidade do cuidado, amparada no paradigma de ecologia integral, como chave de referência no ensino social do Papa Francisco. O texto desenvolve a concepção de processos de conhecimento e ação inerentes a esse horizonte conceitual. Nele é mencionado, em síntese, como exemplo de referência, o modo como o ensino social da Igreja, em suas expressões mais atuais, vem sendo trabalhado operativamente no “marco de orientação de promoção da justiça socioambiental” da província dos jesuítas do Brasil. Estão espelhados nele, também, aspectos visíveis do modo como se dá aprendizagem e a espiritualidade, em coerência com este horizonte conceitual. Busca-se identificar a espiritualidade cultivada inerente à promoção da justiça e ao cuidado, dentro de práticas de “serviço-aprendizagem” junto a comunidades e como isto se manifesta por meio de projetos sociais no contexto universitário. O argumento central do ensaio é concluído com o apoio de recortes narrativos, que pautam práticas de “serviço-aprendizagem” e de espiritualidade inerentes a esses projetos e que são apresentados de forma sucinta. Os relatos são levantados em uma universidade jesuíta do sul do Brasil, sinalizando como são contempladas as principais dimensões da concepção operativa de justiça, dentro do horizonte da ecologia integral.

INTRODUÇÃO

A carta encíclica Laudato Si’ (Papa Francisco, 2015, LS) gerou um forte impacto na opinião pública mundial. Alguns fizeram uma leitura precipitada, focados na dramática crise ambiental que assola a humanidade. No entanto, aos poucos ficou evidenciado que se tratava de uma proposta muito mais profunda, desafiando a humanidade a se posicionar dentro de um novo paradigma sintetizado na expressão “ecologia integral”, com desdobramentos nos processos educacionais, na produção de conhecimento e nas práticas tecnológicas, socioculturais e humanas. A degradação da natureza ou ambiental deve ser pensada na sua interrelação profunda com a degradação humana e social, afirma a encíclica:

O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se juntos, e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestamos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. (Papa Francisco, 2015, LS, 48).

A carta encíclica chama a atenção que tudo está intimamente relacionado e os problemas atuais exigem um olhar voltado com atenção para todos os aspectos da crise mundial. Neste sentido, ele propõe “uma ecologia integral que compreenda claramente as dimensões humanas e sociais”. (Papa Francisco, 2015, LS, 137). Isto está expresso, com precisão, na sequência:

Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza. (Papa Francisco, 2015, LS, 139).

Em 2020, o Papa Francisco publicou uma nova carta encíclica, a Fratelli Tutti (FT), na qual ele procura dar conta das dimensões humanas e sociais, quase sendo um novo grande capítulo para completar a reflexão desenhada na LS. Ao apresentar esta nova carta encíclica, na Praça São Pedro no dia 08 de outubro de 2020, o Papa Francisco assim se expressou: “A fraternidade humana e o cuidado da criação formam a única via para o desenvolvimento integral e a paz” (Papa Francisco, 2020b). É importante anotar que Papa Francisco não fala “duas vias”, mas sim “uma única via”. Por trás desse cuidado com a linguagem reside, sem dúvida, um recado muito claro com relação à proposta já explicitada na LS que aponta para a necessidade de uma ecologia integral. Parece que o Papa sinaliza que o conteúdo da FT deve ser aprofundado de forma integrada com o conteúdo da LS. As duas cartas encíclicas em seu conjunto, somam, com certeza, uma grande síntese atual do ensino social da Igreja.

A ideia da ecologia integral não se constitui, a rigor, como algo novo. Em diversos âmbitos das ciências podemos encontrar pensadores que, sobretudo, ao longo dos últimos cinquenta anos, demonstraram com vigor preocupações similares. Deve ser lembrado, por exemplo, o trabalho de Félix Guattari, sobre a ecosofia, desenvolvendo uma chave de leitura fecunda a partir da ideia das “três ecologias” (Guattari, 1990). Afonso Murad (2020) desenvolve uma reflexão detalhada e muito sugestiva a respeito da ecologia profunda (deep ecology), trazendo a contribuição de diversos autores, tendo com destaque, sobretudo, o filósofo e ecologista norueguês Arne Naess (2007, 2017).

O presente ensaio, sem retomar o detalhamento do processo de evolução do conhecimento consubstanciado nesses estudos e debates epistemológicos, está totalmente amparado no grande horizonte da ecologia integral, que nos é oferecido pelo viés do atual ensino social da Igreja. O desdobramento do ensaio está organizado em três partes: 1) traçado sintético, através de algumas sinalizações mais relevantes, dos principais dramas de degradação humana, social e ambiental, que envolvem a humanidade, hoje, e os grandes desafios expressos particularmente em dois movimentos de busca global de solução, expressos nos “objetivos do desenvolvimento sustentável” (2015-2030) e no “pacto educativo global” (Klein, 2021; Congregação para a educação católica, 2020), bem como a espiritualidade inerente a tudo isto; 2) proposta de operacionalização do conceito de justiça socioambiental, conforme está desenhada pela província dos jesuítas do Brasil em seu “marco de orientação da promoção da justiça socioambiental” (Companhia de Jesus -Jesuítas do Brasil, 2020)  e a espiritualidade da qual este marco é portador; 3) síntese narrativa, no horizonte do debate da função social das universidades, de aspectos de práticas de “serviço-aprendizagem”, presentes em alguns projetos universitários com a comunidade e traços de espiritualidade neles expressos.

1. UM UNIVERSO EM EBULIÇÃO: INTERROGAÇÕES E PERSPECTIVAS

Em nossos dias, a degradação civilizacional na sociedade humana é visível. São muitas as reflexões sobre este fenômeno presente. Como são, também, muitos os estudos e manifestações, de toda ordem, que se debruçam sobre os sintomas crescentes e explícitos do estado de gravidade dessa degradação.

A humanidade teria perdido o seu senso de humanidade? Estaríamos feitos reféns de superficialidades e abalados em valores que sempre foram fundamentais, como o valor da própria dignidade do ser humano? A síndrome da prepotência arrogante e autossuficiente de uns poucos, mascarada de forma vil diante de todos, parece assumir formas escandalosamente visíveis e descaradas. O descaso em relação ao ser humano, em muitas situações políticas, econômicas e sociais, assume formas de irresponsabilidade extrema, calculada e perversa. Isto se expressa, sobretudo, no acúmulo inominável da concentração de riquezas e na exclusão, no descarte e na morte dos mais sofridos. Em diversos lugares, tornaram-se ostensivas e assustadoras as manifestações de racismos, xenofobias e preconceitos discriminatórios de toda ordem.

O descuido para com a vida, em todos os sentidos, especialmente para com a “mãe terra”, parece ser uma chaga incurável. Apesar de todos os movimentos e esforços por encontrar a cura desse mal, parece que a ambição e o lucro a todo custo continuam imperando. Vivemos tempos que ameaçam levar de roldão os esforços gigantescos e as conquistas da humanidade, após muita construção civilizacional. Infelizmente o quadro que se desenha parece ser o quadro de aceleramento agudo da degradação em todos os sentidos.

É urgente que a degradação ceda lugar ao reconhecimento. É urgente que processos de educação sadios retomem as rédeas da humanidade para que ela possa reapropriar-se de sua condição humana. É urgente que se restabeleça a alma da humanidade.

1.1. A Pandemia e a retomada da consciência?

A sacudida da humanidade, no presente momento de pandemia,[1] traz consigo desafios não postergáveis. Se a situação é muito desafiadora, é, também, alentador que, por todos os recantos da terra, despontem sinalizações e vislumbres consistentes de um novo mundo possível e necessário. Estão sendo tecidas novas lógicas em nível pessoal e coletivo. O seu alcance e sua consistência não são mensuráveis. Mas, com certeza, apontam para a necessidade e a urgência da transformação radical.

Ainda estamos afundados na pandemia. Não sabemos quando poderemos vislumbrar a nova realidade, que alguns estão chamando de “pós-pandemia”. Temos dificuldades para desenhar essa realidade futura, em nossas mentes e corações. Algumas ideias são repetidas. Faço memória de duas: 1) A pandemia veio para inaugurar definitivamente aquilo que, há muito tempo, vem sendo denominado de mudança de época. 2) Com a pandemia as seguranças que marcaram as normalidades do século XX caem por terra e se inicia, de verdade, o século XXI.

Segundo o Cardeal José Tolentino Mendonça (2020), a atual pandemia nos faz entrar em uma nova época da história. A pandemia vai passar. Mas nós já estaremos em outra época da história, em termos culturais, civilizacionais e espirituais: uma época espiritualmente outra.

Como jesuíta que sou por opção de consagração religiosa dentro da Igreja Católica, não posso deixar de fazer menção ao momento importante que a Companhia de Jesus, como ordem religiosa, está vivendo, ao celebrar os quinhentos anos de conversão de Inácio de Loyola, ou seja, de espiritualidade inaciana (1521-2021). Ele foi uma personalidade que protagonizou rupturas radicais em sua própria trajetória. Inaugurou uma espiritualidade transformadora, radicalmente contestadora das lógicas dominantes, em sua própria família e em seu contexto social e cultural. Ele mexeu nas estruturas de base que o sustentavam. A guinada espiritual lhe proporcionou um novo sentido à vida. Passou a ver as pessoas e as coisas a partir de uma lógica totalmente outra. Passou de um “olhar degradante e depravador” para um “olhar de reconhecimento e dignificador”. Passou a “ver Deus em tudo”, assumindo um comportamento totalmente novo[2].

A pandemia também mexeu muito conosco. Embaralhou as nossas lógicas. Colocou em questão as estruturas de base e as certezas que nos sustentam. Ela reacendeu, em todos os recantos da terra, a busca e a escuta das diversas vozes da sabedoria humana na história. Essas vozes sempre estiveram presentes. Infelizmente a humanidade tornou-se surda a elas.

Para nós que somos de tradição cristã, o “totalmente novo” que referimos acima, assim como em Inácio de Loyola, nos faz volver à interioridade do grande e insondável mistério de amor do “grito regenerador” de Jesus Cristo. E nele retornam e reboam as três perguntas originárias: “Onde estás”? “Onde está o teu irmão”? “Como está a criação”? presentes no início das sagradas escrituras de nossa tradição[3].

Em uma leitura que fiz em inícios de 2019, de um pequeno livro do teólogo brasileiro Leonardo Boff (2018), uma passagem me chamara particular atenção: “Vamos criar juízo e aprender a ser sábios e a prolongar o projeto humano, purificado pela grande crise que seguramente nos acrisolará”. O autor referia duas passagens riquíssimas da Sagrada Escritura, onde Deus aparece como “apaixonado amante da vida” (Sb 11, 24) e que nos faz um apelo radical: “Escolhe a vida e viverás” (Dt 30, 28). Leonardo Boff escrevia: “Andemos depressa, pois não temos muito tempo a perder” (Boff, 2018).

A pandemia me fez compreender mais profundamente aquela assertiva. Eu torço, agora, para que a pandemia possa efetivamente ter contribuído para que paremos de correr na direção errada (da morte) e para que aceleremos os passos na direção certa (da vida). Esta é a espiritualidade que mais necessitamos.

1.2. Outras interrogações específicas

Como já mencionei, parece que estamos vivendo um tempo de aceleramento agudo da degradação em todos os sentidos. Trata-se de algo generalizado, mas particularmente presente em alguns contextos mais explorados, deteriorados e empobrecidos. Ao mesmo tempo em que se alarga o fosso das desigualdades sociais, se ampliam, também, escandalosas agressões ao meio ambiente em diferentes contextos.

Às vezes me surpreendo ao reavivar dentro de mim imagens que ocupam a minha retina. Faço aqui dois registros através da expressão de olhares que podem ser considerados paradigmáticos[4]:

1) O olhar de uma criança negra, representando milhões de olhares de crianças obrigadas a sobreviver no meio dos dejetos do déficit habitacional escandaloso das grandes periferias urbanas. São crianças que crescem dentro de um submundo degradado e desumano. É um olhar, que na sua expressão de inocência e encanto, grita por justiça. É um olhar no qual se perfilam milhões de olhares de adultos, já não mais inocentes, mas humilhados, desconfortados, revoltados ou desesperadamente conformados, na dor e na angústia de um “destino” injustificado, interrogando diariamente o mundo do luxo, do desperdício e da indiferença[5] que os esmaga. Uma interrogação que vem do mundo do lixo, da fome e do anseio por atenção e reconhecimento.

2) O olhar triste e desencantado do líder indígena frente a uma das múltiplas empresas monstruosas, devastadoras do seu habitat, se misturando com a tristeza e o desespero de centenas de povos originários vítimas de processos genocidas que marcam a história latino-americana e dos povos colonizados em geral. Retrata a triste marca genocida do processo colonizador que continua sendo reproduzido em nossas mentes e em nosso existir. As nossas espiritualidades, inclusive, não conseguem se libertar disso. É um olhar que nos interroga com vigor, ao mesmo tempo, fascinante e profundamente perturbador. Um olhar acompanhado pelo grito desesperado dos povos indígenas sendo diariamente violentados em seus territórios.

Parafraseando o pensamento de Boaventura de Sousa Santos (2019), somos sociedades sobre cujas histórias e estruturas pesa terrivelmente a tríplice marca do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado. Esta tríplice herança continua vivamente desenhada pelos atuais traços de economias extrativistas e acentuadamente financeiras, geradoras de desigualdades sociais escandalosas, pelo racismo estrutural que mostra, de forma renovada, as suas evidências em múltiplos casos e pela consciência sempre viva da morosidade com que avança a conquista da equidade em todos os âmbitos das sociedades.

A função da educação está, também, em ajudar a desconstruir as perversidades desumanizantes inerentes à tríplice herança referida, do capitalismo, do colonialismo e do patriarcado (Santos, 2019)[6]. Paralelamente em muitos contextos acontecem movimentos de espiritualidade que ajudam a reabilitar as contribuições das sabedorias ancestrais africanas e indígenas no Brasil.

1.3. Nota a partir dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Segundo Victor Martin-Fiorino (2020), um dos aspectos destacáveis no início do século XXI foi a existência de uma declaração da Organização das Nações Unidas – ONU apresentando oito grandes Objetivos para o Milênio, prevendo-se a sua avaliação até 2015. Entre os objetivos se destacou o objetivo 7 voltado para a sustentabilidade do meio ambiente. O balanço das quatro metas deste objetivo, junto com as dos outros objetivos, em relação ao seu cumprimento, foi estimado positivo, em 2015, apesar de se ter constatado um nível de engajamento muito baixo de parte dos Estados, das empresas e outros atores sociais (Martin-Fiorino 2020, p.153).

Em 2015 a ONU formulou os conhecidos “objetivos do desenvolvimento sustentável” – ODS 2015-2030 (Nações Unidas, 2015) Apesar de todos os objetivos voltados para a sustentabilidade ambiental serem centrais na proposta do presente texto, optamos por dar destaque especial ao objetivo 4: “Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos” (Nações Unidas, 2015).Este objetivo está necessariamente interligado com os demais objetivos que dão conta das principais urgências para um efetivo desenvolvimento sustentável.[7]

No discurso do dia 25 de setembro de 2015 na sede da ONU, na celebração dos 70 anos da entidade, na qual foram publicados os ODS, o Papa Francisco, depois de fazer um amplo traçado sobre os grandes desafios para a humanidade hoje, retomando muitos pontos expressos na carta encíclica LS, fez o seguinte apelo:

Para que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam atores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres humanos e num relacionamento correto com todos os ambientes onde se desenvolve a sociabilidade humana – amigos, comunidades, aldeias e vilas, escolas, empresas e sindicatos, províncias, países etc. Isto supõe e exige o direito à educação – mesmo para as meninas (excluídas em alguns lugares) -, que é assegurado, antes de tudo, respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos. A educação, assim entendida, é a base para a realização da Agenda 2030 e para a recuperação do ambiente (Papa Francisco, 2015b).

O foco do pronunciamento do Papa Francisco é claro e aponta para a importância do suprimento de todos, em dois níveis: A nível material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis”. (Papa Francisco, 2015b). Ou seja, é exigência para a dignidade humana poder ter habitação, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada e água potável, junto com liberdade religiosa e, mais em geral, liberdade do espírito e educação.

Segundo o Papa Francisco, uma verdadeira abordagem ecológica “sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres” (Papa Francisco, 2015, LS, 49). Neste sentido a Ecologia Integral contempla a tarefa convergente de “combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e cuidar da natureza” (Papa Francisco, 2015, LS, 139).

Quando concentramos a nossa preocupação central na Ecologia Integral, segundo Martin-Fiorino, para além das conceituações científicas, a nossa atenção se dirige ao fato de que a ecosfera é a nossa Casa Comum, fazendo com que discurso científico e discurso engajado, voltado para todas as formas de vida, se misturem:

– Na reconciliação com uma lógica da vida, que permite que transcendamos a nós mesmos, rompendo as autorrefencialidades, numa perspectiva de cuidado dos demais e do meio ambiente (Papa Francisco, 2015, LS, 208).

– Na reciprocidade, na ajuda e cuidado mútuos e dos seres humanos, em suma, na solidariedade para com os demais, superando a cultura do descarte (Papa Francisco, 2015, LS, 156).

– Na convivência com todos os seres vivos, viventes humanos e não humanos, desde o princípio universal do destino dos bens, a começar pelos mais fragilizados (Papa Francisco, 2015, LS, 158).[8]

1.4. A proposta do Pacto Educativo Global

Na sua mensagem, no dia do lançamento do Pacto Educativo Global, em 12 de setembro de 2019, o Papa Francisco marcou o evento com as seguintes palavras:

Toda a mudança requer um percurso educativo para construir novos paradigmas capazes de responder aos desafios e emergências do mundo atual, de compreender e encontrar as soluções para as exigências de cada geração e de fazer florir a humanidade de hoje e de amanhã (Papa Francisco, 2019).

O Papa Francisco sempre foi muito atento à questão da educação, desde o início de seu pontificado. Mesmo que às vezes se referisse diretamente às instituições de ensino em seus diversos níveis, em geral a sua atenção se centrou na ação educativa como processo social inerente à sociedade gerando sentido comprometendo harmonicamente o passado, o presente e o futuro da humanidade. O seu conceito de educação envolve um grande leque de experiências de vida e de aprendizagens, levando os jovens a desenvolver as suas personalidades, tanto individual como coletivamente.

Em seu discurso para os participantes de um Seminário sobre o tema “Education: The Global Compact”, promovido pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, 07 de fevereiro de 2020, o Papa Francisco insistiu que é necessário que se restabeleça o processo educativo de forma integral. Que as novas gerações compreendam e se apropriem integralmente da própria tradição e cultura, que é algo inegociável, na relação com as outras culturas. O cultivo da autocompreensão, de forma aberta à diversidade e às mudanças culturais. E remarcou:

Desta forma será possível promover uma cultura de diálogo, uma cultura de encontro e de compreensão mútua, de forma pacífica, respeitadora e tolerante. Uma educação que permita identificar e promover os verdadeiros valores humanos numa perspectiva intercultural e inter-religiosa.

(…) Ao promover a aprendizagem da cabeça, do coração e das mãos, a educação intelectual e socioemocional, a transmissão dos valores e virtudes individuais e sociais, o ensino da cidadania engajada e solidária com a justiça, e a transmissão das competências e conhecimentos que formam os jovens para o mundo do trabalho e da sociedade, as famílias, as escolas e as instituições tornam-se veículos essenciais para o empowerment da próxima geração. Então sim, já não se fala de um pacto educacional quebrado. Este é o pacto! (Papa Francisco, 2020a).

Não temos como alongar a nossa exposição aqui sobre tudo aquilo que o “pacto educativo global” significa, mas é importante que em breves traços façamos o registro de que ele se caracteriza pela centralidade da pessoa em todo processo educativo e, também, por retomar a importância da família como o primeiro e indispensável sujeito educador. Nele é dada, também, toda atenção à escuta das crianças, adolescentes e jovens, de modo especial meninas em determinadas situações, de sete compromissos, dando destaque à centralidade da pessoa no processo educativo, ouvindo a voz das crianças, adolescentes e jovens, em especial as meninas, em certas situações. Ele está focado na prática do acolhimento com abertura para os mais vulneráveis e marginalizados e aponta para a necessidade de encontrar outras formas de compreender a economia, a política, o crescimento e o progresso, na perspectiva duma ecologia integral e guardar e cultivar a nossa casa comum[9].

2. O CONCEITO OPERACIONAL DE JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL E A HIPÓTESE DE APROXIMAÇÃO COM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO INTEGRAL

2.1. Prolegômenos

Uma hipótese de atalho que encontramos para ir ao encontro dos apelos presentes tanto nas cartas encíclicas sociais do Papa Francisco, como na formulação dos “objetivos do desenvolvimento sustentável” da ONU e, sobretudo, no “pacto educativo global”, está naquilo que estamos definindo como “promoção da justiça socioambiental”. O empenho explícito da Companhia de Jesus, desde finais do século XX em integrar o compromisso com a justiça social e as questões ambientais, está muito bem expresso no Marco de Orientação da Justiça Socioambiental da província dos jesuítas do Brasil (Província dos Jesuítas do Brasil, 2020). Como já sinalizei na introdução deste ensaio, este empenho foi intensamente reforçado com a explicitação do paradigma de Ecologia Integral, nas encíclicas sociais do Papa Francisco.

2.2. Vetores temáticos da promoção da Justiça Socioambiental

Sob a articulação do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA[10], que é o órgão que facilita o funcionamento das ações de promoção da justiça, a busca permanente está em construir uma cultura do cuidado, focando a atenção em três grandes cuidados: o cuidado da dignidade humana na atenção a nós mesmos e aos outros, o cuidado dos dons da criação em sua diversidade e o cuidado do ordenamento socioeconômico e das políticas públicas na atenção à diminuição das desigualdades sociais.

  • Cuidado da dignidade do ser humano, na atenção a nós mesmos e aos outros.

É a dimensão ou vetor temático do cuidado da dignidade humana, amparada no autoreconhecimento e no reconhecimento dos outros. Esta dimensão acontece, na prática, nas relações conosco mesmos em nossa autocompreensão e identificação e com o diferente, nas relações étnico-raciais, religiosas, de gênero, de geração, de origem nacional, de visões de mundo e opções, buscando sempre formas de estabelecer o diálogo, o valor da pluralidade e a inclusão de todos/as.

  • Cuidado dos dons da criação, da vida e da saúde dos ecossistemas.

É a dimensão ou vetor temático do cuidado dos dons da criação. Trata-se da conservação, preservação e usos adequados dos dons naturais, em vista do cuidado dos ecossistemas saudáveis e da vida para o futuro do planeta terra e de seus habitantese atenção especial ao nosso modo de ser, viver e trabalhar e à diversidade da vida nos diferentes biomas de cada território.

  • Cuidado das políticas, da sociedade e da economia em vista da diminuição das desigualdades sociais.

É a dimensão ou vetor temático do cuidado do ordenamento socioeconômico e das políticas públicas. Nesta terceira dimensão está fundamentalmente em questão a diminuição das desigualdades, das exclusões sociais e da pobreza, pela busca do acesso universal aos direitos básicos de trabalho, assistência social, previdência, segurança, saúde, moradia, educação, alimentação e nacionalidade.

2.3. Posições estratégicas da promoção da Justiça Socioambiental

Tentando pensar, na prática, o nosso compromisso com a promoção da justiça, no esforço de termos alguma incidência nisso, e tendo presente a perspectiva e amplitude social e ambiental apontadas, estão sendo ensaiados, dentro do marco referido, alguns atalhos operacionais. Distinguimos, neste sentido, três níveis concretos ou diferentes posições estratégicas em nossas incidências nas práticas na promoção da justiça ou da justiça socioambiental. Ou seja, podemos incidir nas práticas de justiça efetivadas em nível de produção do conhecimento, em nível de interlocução direta com grupos, organizações e movimentos nas ações junto às tomadas de decisão, e, sobretudo, em nível de cotidiano em nosso ser, viver e agir, no dia a dia.

Os cuidados acima descritos segundo as três dimensões ou vetores temáticos que delimitamos, passam a ter força operativa quando visualizadas nessas três posições estratégicas ou níveis transversais. Entendo que essa transversalidade tríplice e complexa, apresentada aqui em formato caricato e simplificado, pode estar apontando para uma chave fecunda no avanço dentro da ideia de desenvolvimento sustentável e de educação integral.

3. A FUNÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE, “SERVIÇO-APRENDIZAGEM” E ESPIRITUALIDADE

3.1. Impactos na academia e na sociedade

A inquietação e o apelo profético expressos pelo teólogo Leonardo Boff, mencionados anteriormente, não são novidade, mas fazem ecoar e repercutir de forma nova e vigorosa o grito múltiplo e multimilenar da própria alma da humanidade. Trata-se, sobretudo, de uma interpelação ética, com a qual muitas vozes vêm fazendo eco, ao longo das últimas décadas. É uma interpelação dirigida também para as instituições acadêmicas, em sua função precípua de produção do conhecimento e formação de profissionais em todas as áreas de conhecimento.

Existe um descompasso, ainda abismal, entre as demandas da sociedade e as efetivas entregas do meio acadêmico. Existem também muitos esforços pela superação desse abismo. Uma multiplicidade de intelectuais e outros agentes sociais deveriam ser destacados, aqui, por suas contribuições, a partir das mais diversas posições, na busca dessa superação. O presente ensaio não permite retomar todo esse debate que, como a temática da ecologia integral, ou, de forma associada a essa temática, nos enche de esperança. Não posso, no entanto, deixar de mencionar em destaque, a teoria da complexidade (Morin, 2005), o conceito e a prática transdisciplinar (Nicolescu, 2000), os debates sobre a “ecologia dos saberes” (Santos, 2010) e sobre a “racionalidade ambiental” (Leff, 2006, 2016), como alguns dos múltiplos e promissores caminhos de aproximação entre o mundo acadêmico o mundo fora da academia. Em todos esses caminhos são-nos fornecidas chaves importantes para a revalorização de saberes que foram atropelados e marginalizados pelas racionalidades acadêmicas e suas lógicas viciadas e segmentadas.

A sociedade humana, apesar dos avanços tecnológicos importantes ou, muitas vezes, por causa deles, da maneira como esses se deram, está longe de ter resolvido os seus próprios problemas internos. A mesma coisa se deve dizer quanto aos conflitos gerados na relação do ser humano com os bens naturais. Alguns problemas internos e, também, conflitos na relação com a natureza tenderam a se agravar. O mundo acadêmico está sendo escandalosamente moroso ou, até, alienado no exercício do seu papel.

O cenário em que irrompe a complexa crise socioambiental (social e ambiental) é o de um mundo em ebulição, onde as contradições de problemas atuais e problemas do passado compõem conjuntamente o enredo para a compreensão dos problemas e conflitos que devem ser encarados concretamente pelo meio acadêmico. O mundo está em crise, não porque está em processo criativo, mas porque é um mundo em degradação, tentando sobreviver. A Universidade sobreviverá se conseguir ajudar a humanidade e o mundo a sobreviver. A Universidade só tem sentido se for geradora de processos criativos dentro da humanidade.

A “retomada da consciência” provocada pelo choque da pandemia pode tender a ser mais um movimento superficial e inconsequente, se a humanidade permanecer inerte e não souber lançar mão de sua expertise para, dentro de cada contexto cultural, fazer as pazes com o seu passado. Este fazer as pazes com o seu passado necessita de uma profunda transformação tanto em nível da educação, como, também, dentro daquilo que chamamos de espiritualidade ou alma da humanidade.

3.2. A função da Universidade

De fato, quando pensamos o cuidado da dignidade humana, o cuidado da sociedade e o cuidado ambiental, estamos frente a importantes lógicas de relações complexamente presentes na sociedade, e nem sempre o mundo acadêmico conseguiu estabelecer uma interlocução coerente. Ao contrário, o mundo acadêmico tendeu a se isolar construindo o seu mundo próprio.

Como facilitar essa interlocução? Como romper o isolamento e autorrefencialidade da academia? Um caminho importante é o de sempre voltarmos para três perguntas ou questões básicas: 1) A primeira questão, em nosso “que fazer” universitário, sempre deve ser: que sociedade nós queremos? 2) Uma segunda questão naturalmente se seguirá: que sujeitos formar para essa sociedade que queremos? e 3) A terceira questão, consequentemente, fará voltar o nosso olhar para as universidades, enquanto tal: que educação nós necessitamos? E, dentro desta questão: que universidade para ser coerente com a educação necessária para os sujeitos e a sociedade buscados? (cfr. Follmann, 2008, p. 322)[11].

O nosso sonho é na direção de uma sociedade sustentável, isto é, uma inovação tecnológica condizente com os avanços internacionais e com o estabelecimento de garantias de sustentabilidade social e ambiental, em vista da sobrevivência equilibrada da sociedade e do meio ambiente, no presente e no futuro. Por isso, os cidadãos e profissionais dessa sociedade devem passar por um processo de formação condizente e o sistema no qual este processo formativo se dá deve ser impulsionador disto. Encontramos, sem dúvida, os melhores direcionamentos para isto na Pacto Educativo Global acima referido.

3.3. Projetos sociais e espiritualidade do “serviço-aprendizagem”

A Universidade que tomei como referência neste estudo, é uma Universidade Jesuíta que se situa no sul do Brasil. Nessa Universidade existe uma instância denominda Centro de Cidadania e Ação Social – CCIAS[12], que congrega e articula os projetos sociais da Instituição. Entre os 18 projetos que vem sendo desenvolvidos como serviços de interface entre Universidade e comunidade, escolhi cinco para colher elementos para a presente reflexão:

1) A Horta Mãe-da-Terra é um projeto de produção coletiva de hortaliças e plantas alimentícias não convencionais, desenvolvido por estudantes da Universidade, estudantes de educação básica e professores, junto a uma escola municipal em um bairro popular.

2) O Programa Esporte Integral é um conjunto de atividades coletivas, em interface com a comunidade, que funciona no centro esportivo do Campus Universitário e em outros espaços focado na formação da cidadania, nas experiências de democracia participativa e no exercício do direito ao lazer, a partir de práticas esportivas.

3) O Programa de Atenção Ampliada à Saúde, funciona em um prédio de fácil acesso, nas proximidades da Prefeitura Municipal, e se caracteriza como “serviço-escola” interdisciplinar na área da saúde, tendo como um de seus focos o Serviço-Escola institucional do Curso de Psicologia.

4) O Vida-com-Arte é uma proposta de educação musical e fortalecimento de vínculos que atende crianças e adolescentes da rede escolar do município, que se encontram em situação de vulnerabilidade social, tendo como foco principal proporcionar aos participantes a oportunidade de conviverem em um ambiente sadio e desenvolverem suas habilidades musicais e humanas.

5) O Grupo de Cidadania e Cultura Religiosa Afro, é um espaço criado, no Campus Universitário, pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – NEABI, realizando encontros semanais da comunidade de afrodescendentes do município e arredores. Reúne crianças, jovens, adultos e idosos, para uma convivência cultural, de diálogo inter-religioso, de aprendizagens coletivas e de conhecimento de sua realidade e de aproximação com o mundo acadêmico.

Tem-se assim, dentro de cinco frentes de interface da Universidade com a comunidade, uma diversidade bastante sugestiva de espaços que proporcionam práticas, que podem ser consideradas pertinentes, em termos de “serviço-aprendizagem”.

Na Horta Mãe da Terra, na qual estão envolvidos professores, educadores, acadêmicos estagiários e os participantes locais, os processos de aprendizagem se dão “por meio da educação integral que visa desenvolver as dimensões da pessoa a partir de reflexões e experiências abordando a esfera social, política, afetiva, cultural, mística e ambiental”. A coordenação do projeto comenta que: “quando trabalhadas de maneira prática formam cidadãos com um pensamento crítico, emancipatório, político, transformador, social e propositivo capaz de analisar e agir nas complexas relações existentes entre processos naturais e sociais na escola e na comunidade”. Falando especificamente do aprendizado dos educadores e estagiários, a coordenação comenta, que em todo este processo: “educadores e estagiários têm a oportunidade de trabalhar com uma comunidade que ainda apresenta elevado índice de vulnerabilidade social. Trata-se de uma experiência transformadora” (Projeto Horta Mãe da Terra, in Olma, 2021)[13].

O Programa Esporte Integral, fiel ao seu objetivo central que é a formação na cidadania, favorece espaços de “serviço-aprendizagem” em diferentes experiências de democracia participativa, no exercício concreto do direito ao lazer, mediante práticas esportivas e de lazer, coletivamente construídas. Nessas práticas todas/os participantes, junto com integrantes das equipes, profissionais, estagiárias/os e técnicas/os, são sempre, na medida do possível e viável, envolvidas/os no planejamento, na busca de conhecimentos e nas avaliações.

O Programa de Atenção Ampliada à Saúde tem como objetivo promover práticas em saúde, contemplando as necessidades constitutivas dos processos de desenvolvimento humano e societário com vistas à qualidade de vida. Nele, todas/os profissionais, professoras/es, técnicas/os, estagiários/as e estudantes, são envolvidas/os nas mais diferentes atividades formativas e de atendimento, havendo sempre o reforço por meio de seminários teóricos sistemáticos, de supervisão semanal, de estudos de casos mensais, além da formação continuada para a capacitação em diferentes áreas e temáticas. Os grupos participantes, ou o público-alvo do programa, têm seus processos de aprendizagem voltados à psicoeducação, hábitos alimentares, higiene e hábitos saudáveis, além de outros aspectos trabalhados em consultas individuais, em conjunto e/ou em grupos. Tudo isto faz com que vislumbre nos seus espaços de trabalho deste programa, uma experiência significativa de “serviço-aprendizagem”.

O Vida-com-Arte veio proporcionando ao longo da década de 2010, um processo diferenciado de “serviço-aprendizagem” fazendo com que em três encontros semanais profissionais músicos, estagiários, oficineiros e jovens aprendizes das escolas das periferias mais vulneradas do município tivessem oportunidade de trocas coletivas no manejo musical de instrumentos como violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flautas e percussão. Momentos importantes de aprendizagem sempre foram também a interação dos oficineiros nos próprios ensaios da orquestra da Universidade, através do manejo de instrumentos e do canto. A prática de apresentações públicas sempre representou ponto de culminância no processo de aprendizagem e formação dos sujeitos em sua cidadania.

O Grupo de Cidadania e Cultura Religiosa Afro se caracteriza, sobretudo, por atividades voltadas para o processo histórico e identitário da população negra na região e, também, a dimensão religiosa diversa dos participantes. Os processos de aprendizagens sempre se deram de forma coletiva, sobretudo, mediante rodas de conversa com todas/os todos, profissionais professores, estudantes e participantes de todas as idades interagindo de forma dialogada. Uma metodologia utilizada na análise de histórias de vida da população negra do município foi o que denominamos de hermenêutica coletiva. A oralidade, com a contação de histórias de vida e troca de experiências, envolvendo a todas/os sempre foi o que mais marcou as práticas de aprendizagem. O “Cidadania” se considera um espaço de aprendizado coletivo e de inclusão afirmativa da população afro no meio acadêmico.

Quando buscamos identificar aspectos relativos à espiritualidade presente nos projetos sociais em questão, abrem-se horizontes de percepção muito interessantes, tais como:

A equipe que coordena, por exemplo, o projeto Horta Mãe da Terra, nos relatou que entendem e praticam “a espiritualidade por meio do espaço da horta como sendo uma ferramenta de conexão para promover o cuidado com a vida e o bem viver”. Ou, ainda, é relatado pela coordenação o modo como é considerada a na visão do projeto: “a terra como nossa “grande mãe”, a “pachamama”, dos povos indígenas, e a “magna mater” de quase todas as tradições da humanidade assegurando uma vida digna. A espiritualidade ocorre durante o cultivo e o cuidado com a terra” (Projeto Horta Mãe da Terra, in Olma, 2021).

No que se refere à espiritualidade nas nossas atividades do Programa Esporte Integral, foi relatada a existência de alguns espaços: “Nestes espaços, a partir das demandas trazidas pelos participantes criam-se estratégias de diálogo, dinâmicas, visitas a outras organizações e demais ações que ampliem e possibilitem construções enquanto grupo”. Estes espaços foram assim caracterizados: “ricos espaços de reflexão e de construção coletiva de valores”. (Projeto Esporte Integral, in Olma, 2021).

Para falar em espiritualidade, a coordenação do Programa de Atenção Ampliada à Saúde, foi clara em relatar dentro dos seguintes termos: Nós “não temos momentos específicos para a espiritualidade”, no entanto, “somos uma equipe cuja postura ética, encaminha nossas tomadas de posição e escolhas, sempre buscando o melhor para a população atendida, participantes e estagiários”. Em outra passagem do depoimento, a coordenação relata: “Estamos integrados, construindo cotidianamente o trabalho de forma coletiva. Realizamos composições que partem do diálogo e que sempre visam o melhor para a nossa coletividade”. A coordenação também fala das parcerias na busca de soluções, como prática de espiritualidade, ou seja, não querer ficar isolados: “Buscamos compor com parceiro, tentando alianças de trabalho e ampliação de soluções para os inúmeros problemas e desafios encontrados” (Programa Atenção Ampliada à Saúde, in OLMA, 2021).

Quanto ao Projeto Vida-com-Arte, segundo a sua coordenação, é importante anotar que “o projeto gera impacto em muitas vidas de jovens e adolescentes, e ele mesmo é a expressão de uma prática espiritual constante, de correção das injustiças sociais, de compartilhamento de afetos e saberes” (Projeto Vida-com-Arte, in OLMA, 2021).

O Grupo de Cidadania e Cultura Religiosa Afro originou-se do desejo mostrado por líderes de diferentes religiões para conhecer melhor a cultura e história africana e dos afrodescendentes. A sua espiritualidade reflete muito, desde a origem “a abertura e cultivo de práticas espirituais diversas, ao lado de reflexões da espiritualidade inaciana, sempre foram marcantes. Sempre iniciamos as atividades com algum tipo de reflexão seja a partir da espiritualidade católica ou de outra denominação religiosa”. Assim, a espiritualidade neste projeto sempre quis expressar-se em direitos de igualdade ativa, em direitos à dignidade e fraternidade, em confiança e conhecimento, em justiça e paz entre todos os povos, culturas e religiões”. Segundo a sua coordenação, “o respeito à diversidade religiosa orienta, assim, a busca dos fundamentos da coexistência pacífica entre as múltiplas formas que conduzem ao Altíssimo e à superação das limitações e condutas que separam a humanidade”. E um outro comentário temos a seguinte assertiva: “A vida sem disfarces e estigmas associados a julgamentos a quem é diferente, conduz à valorização da diversidade e à complementaridade religiosa e à igualdade social”. (Grupo Cidadania e Cultura Religiosa Afro, in OLMA, 2021)

Assim, os cinco projetos aqui pautados, relatam percepções e práticas específicas que convergem, por caminhos diferentes e criativos, para uma mesma espiritualidade que nasce do conceito de justiça socioambiental (social e ambiental) e de um horizonte de práticas pedagógicas comuns. É uma espiritualidade que se pauta, principalmente, na “mística” que desperta e é cultivada: no reconhecimento radical da própria dignidade e da dignidade do outro; no sofrimento e na indignação frente às desigualdades escandalosas e inaceitáveis e frente à situação desumana, vivida, por muitos irmãos e irmãs; no cuidado da vida e dos dons da criação, impelido pelo amor a toda a vida, que pulsa no presente, e pulsará no futuro, neste planeta terra.

4. ESPIRITUALIDADE DO CUIDADO (A TÍTULO DE CONCLUSÃO)

A humanidade necessita urgentemente centrar-se na cultura do cuidado e desfazer-se da tragédia da cultura da indiferença. A atenção central deve ser colocada na dimensão relacional e na interligação de tudo dentro do convívio humano, nas relações interpessoais, na sociedade e em relação aos dons da natureza.

Precisamos estar cuidadosamente atentos à prática da justiça em todo complexo convívio humano. Este estar “cuidadosamente atentos” é o que, aqui, concluindo, podemos chamar de espiritualidade do cuidado. Esta denominação parece ser a mais apropriada porque tem em seu centro o permanente cuidado da dignidade humana e da vida em todas as suas manifestações.

Em outras palavras, é uma espiritualidade que perpassa o cuidado da dignidade humana, o cuidado dos dons da criação e o cuidado do ordenamento social e econômico de inclusão e igualdade. Precisamos cultivar em nós essa tríplice mística do cuidado. São cuidados que podem ser exercidos tanto em nível de produção do conhecimento, de influência nas tomadas de decisão e no modo de ser, viver e agir dentro do cotidiano.Ou seja, uma espiritualidade integral que nos envolve em nossa totalidade de vida e de ação.

Precisamos de uma espiritualidade que nos mude, radicalmente, em nossas práticas. Que nos faça retomar o verdadeiro caminho da justiça. Que seja força regeneradora da sabedoria humana. Segundo o teólogo Leonardo Boff, “vamos criar juízo e aprender a ser sábios e a prolongar o projeto humano, purificado pela grande crise que seguramente nos acrisolará” (Boff, 2018, p. 158). Segundo este teólogo é necessário que andemos depressa, pois não temos muito tempo a perder (p. 159).

A Espiritualidade, que hoje nos é solicitada, é a disposição de nossos corações para buscar os melhores caminhos para a construção de sociedades sustentáveis e geradoras de vida. Um dos caminhos mais fecundos para isto, que se desenha de diferentes formas, são os novos formatos de aprendizagem, expressos sobretudo no “serviço-aprendizagem”.

REFERÊNCIAS

Boff, L. (2018). Reflexões de um velho teólogo e pensador. Petrópolis: Vozes.

Brasil (2009). Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: Mec-Secad.

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Santos, B. de S. (2019). O fim do império cognitivo. A afirmação das epistemologias do Sul.Belo Horizonte: Autêntica Editora.

NOTAS:


[1] A Pandemia do Coronavírus – Covid-19, eclodiu em todo mundo, em inícios de 2020 e continua ainda, em meados de 2021, data de escrita deste ensaio, causando estragos avassaladores em diversos contextos.

[2] O uso do termo espiritualidade neste ensaio está diretamente relacionado com esta “mística inaciana” do “ver Deus em tudo” (Loyola, 2015).

[3] “Onde estás”? Foi assim que Deus interpelou Adão. (Gn. 3,9).  “Onde está o teu irmão”? Foi assim que Deus interpelou Caim (Gn. 4,9). “Como está a criação”? Assim interpela Deus a humanidade, não deixando que ela esqueça seu mandato de cuidar de tudo (Gn. 1, 26-31; 2, 15). No que se refere a Gn. 2, 15 e, especialmente, Gn. 1, 26-31, em termos teológicos “o ser humano na criação” está abordado de forma muito detalhada e profunda por Lúcio Flávio Cirne (Cirne, 2013, p. 82-89).

[4] Retomo em síntese o que referi em conferência preparada para III Seminário de Espiritualidades contemporâneas, pluralidade religiosa e diálogo, na Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, 22-24/04/2020. O evento foi cancelado devido à pandemia, mas a conferência foi publicada em formato eletrônico pela instituição promotora (Cfr. Follmann, 2020).

[5] O que sente o menino negro pobre de periferia é uma marca global, hoje, na sociedade humana. É a chaga da cultura da indiferença denunciada pelo Papa Francisco em Lampedusa em 2013, quando fala da “globalização da indiferença”. Cfr Ihu On-Line (2013). Obtido em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/521786-qadao-onde-estas-caim-onde-esta-o-teu-irmao-o-discurso-de-francisco-em-lampedusa

[6] Um exemplo muito promissor está nas leis 10639/2003 e 11645/2008, que revisam e esclarecem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9394/96) mediante os artigos 26A e 79B, normalizando a obrigatoriedade da Educação das Relações Étnico-raciais em todo sistema educacional brasileiro e o ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e dos povos indígenas (Brasil, 2009).

[7] Os 17 ODS são: 1. Erradicação da pobreza; 2. Agricultura sustentável; 3. Saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 6. Água potável e saneamento; 7. Energia limpa e acessível; 8. Trabalho decente e crescimento econômico; 9. Indústria, inovação e infraestrutura; 10. Redução das desigualdades; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsáveis; 13. Ação contra mudança global do clima; 14. Vida na água; 15. Vida terrestre; 16. Paz, justiça e instituições eficazes; 17. Parcerias e meios de implementação. A explicitação dos títulos das temáticas dos objetivos é um indicativo bastante sugestivo com relação ao complexo alcance da expressão “desenvolvimento sustentável”. Sintetizado de: https://www.pactoglobal.org.br/ods

[8] Cfr Martin-Fiorino, 2020, pp. 155-156.

[9] Revista IHU On-Line, comenta Pacto Educativo Global, 16/10/2020: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/603808-educacao-papa-lanca-pacto-global-com-sete-compromissos-por-um-mundo-diferente

[10] Nota importante: o Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) será referido ao longo de todo o capítulo apenas por sua sigla. Trata-se de um “Observatório em Rede” da Província do Brasil, Companhia de Jesus, com núcleo articulador em Brasília, DF. www.olma.org.br

[11] As três perguntas estão inspiradas no primeiro Plano Estratégico 2001-2005, da Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América latina e Caribe – AUSJAL.

[12] Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. Ver Centro de Cidadania e Ação Social – CCIAS: http://unisinos.br/cidadania/ccias-centro-de-cidadania-e-acao-social-unisinos/

[13] As citações na sequência deste item fazem parte de uma documentação do autor, em elaboração para publicação no site do OLMA – www.olma.org.br: Olma (2021). Experiências Significativas de Justiça Socioambiental. (EM PREPARAÇÃO).

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