POR QUE QUERES SER PADRE?

O pequeno texto que tomei a liberdade de postar, foi escrito por mim em dezembro de 1974, um pouco mais de um mês antes de assumir o “ministério presbiteral” como padre jesuíta. Eu já havia recebido dois meses antes o “ministério diaconal”. Foi um pequeno texto escrito então, às pressas, a pedido da “Revista Notícias para Nossos Amigos” que o publicou (n. 123/124, NATAL, 1974). Fiquei muito feliz em rever este pequeno texto, agora, quase cinco décadas depois… (Reproduzo o texto literalmente, assim como foi publicado na época.)

José Ivo Follmann, S.J.

Dezembro de 1974

Estou nas vésperas do meu sacerdócio…

Se olho para mim agora, vejo desenhadas nos meus gestos, nas minhas atitudes e nos meus pensamentos todas as vivências, todas as amizades e todos os ambientes que já experimentei ao longo da minha vida.

Ao longo da minha trajetória, que teve muitos momentos altos e, também, muitos momentos baixos, foi-se delineando, pouco a pouco, isto que hoje sou… isto é, alguém que optou definitivamente pelo sacerdócio.

Muitos, duros e enriquecedores, foram os questionamentos que diariamente me foram dirigidos, como também grandes foram os incentivos que sempre fielmente me acompanharam, seja a nível de colegas de estudo na Universidade, seja a nível de colegas de trabalho, seja da parte do grupo de amizade e de vida religiosa, que sempre me manteve de pé.

Uma pergunta constantemente se fez presente: Por que queres ser padre? Acho que nunca consegui dar uma resposta completa… Ou, mesmo que muitas vezes tenha conseguido satisfazer aos que perguntavam, eu sempre fiquei com a impressão de não ter dito quase nada daquilo que teria de fato gostado de dizer.

No início, como adolescente, eu via no padre uma espécie de ideal a conquistar ou quiçá uma posição social a galgar… era algo muito definido. A resposta então era fácil, bastava repetir três ou quatro chavões mal assimilados e aprendidos de outros. Agora, já não sou adolescente. Estou às vésperas do sacerdócio.

Já não sei mais definir com clareza o que é o padre. Já não vejo no ser padre uma posição a conquistar. Agora, apesar de ainda não ser, já estou sentindo na pele o que significa de fato ser padre.

Os meus estudos, os contatos que tive e as reflexões que fiz me puseram diante da crua realidade, não do sacerdócio, acobertado por uma capa bonita e triunfalista, mas da vida dos padres e da vida da Igreja em geral, onde se delineiam casos dos mais tristes e desalentadores até os mais alegres e incentivadores. Se por um lado está havendo um grande esforço da parte da Igreja e de seu clero por serem uma força que desperta e aviva constantemente para uma resposta crescente ao chamado de Cristo, que é um chamado para o Serviço dos homens, por outro lado percebo sempre com mais crua nitidez o quão longe estamos de uma resposta autêntica ao mesmo Evangelho de Cristo.

Posso dizer que minha vocação despertou e se confirmou na medida em que fui percebendo a radicalidade da Mensagem de Cristo, e, na medida em que fui vendo quão longe estamos do caminho que Ele nos indica. Vejo o ser padre como um radical comprometer-se com Cristo e com os cristãos.

Todos os cristãos são chamados por Cristo a uma missão fundamental que é a de estar sempre a serviço dos outros, ajudando-os a encontrarem-se consigo mesmos e com seus irmãos, a fazerem tudo para o bem e com amor, e caminharem assim para Deus. Aqueles que recebem a Ordem Sacerdotal se comprometem na tarefa específica de presidir neste serviço. Mas não entendam mal, o “presidir” não quer dizer nenhum cargo honorífico ou de dominação, mas quer dizer “facilitar”… O sacerdote deve ser o facilitador da autêntica vida cristã dos membros de sua comunidade ou dos seus companheiros de trabalho.

O padre é facilitador especialmente pelo fato de se colocar em total disponibilidade, esteja onde estiver, pela causa do Evangelho de Cristo na vida das pessoas.

Este aspecto do sacerdócio ministerial é o que mais me diz, por isso o acentuo aqui; não seja, no entanto, entendido em detrimento dos demais aspectos que não menciono…

(Quando a gente é convidado a falar assim “de coração, de improviso, sempre sai aquilo que está nadando em cima, e que nem sempre é o mais radicalmente teológico).

É isso aí!… Mais uma vez tenho a sensação de ter tentado responder à pergunta “Por que queres ser padre? A desvantagem é que desta vez foi em cima de um papel que, por mais pessoal que queiramos fazê-lo, sempre permanece com um sabor de impessoalidade…

Para finalizar, uma palavra de gratidão. Gratidão porque eu sei que todos os que leem esta página têm algo de muito profundo a ver comigo. O mais fantástico e vital para alguém que dá um passo importante em sua vida é saber que não está só, que isto mexe com muitos outros, que alimentam o mesmo ideal e que dão força.

Por isso, não sei como agradecer a todos quantos, me criticando, me incentivando com sua amizade e oração e apontando para o Evangelho, me fizeram e fazem levar a minha vida a sério e a identificar no sacerdócio ministerial a minha maneira de responder ao chamado, que Cristo dirige a todos os cristãos.

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